Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em depoimento de quase oito horas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo da Câmara, a diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, tentou explicar hoje (23) que não conhecia o teor do documento entregue à juíza Cecília Marcondes, do Tribunal Regional Federal (TRF), para justificar a revogação da decisão judicial que impunha restrições aos pousos no Aeroporto de Congonhas, na zona Sul de São Paulo (SP).
Denise Abreu reiterou o que havia declarado à CPI do Senado no dia 16. Segundo ela, a instrução suplementar (IS-RBHA 121/189) não era uma norma, mas sim um estudo elaborado por técnicos da agência e não aprovado pela diretoria. O documento, de acordo com ela, teria sido indevidamente divulgado no site e incluído entre outros entregues à juíza, pedindo a liberação da pista principal do aeroporto para os aviões Fokker 100 e Boeing 737-700 e 737-800.
“Não era uma regra, mas sim um estudo. Ele estava sendo preparado antes da conclusão da pista por causa do acúmulo de água e do baixo índice de atrito”, disse a diretora. Ela confirmou que técnicos e representantes das empresas aéreas se reuniram durante a confecção do documento, mas que nenhum dos cinco diretores teria participado do encontro.
A diretora também disse ter-se reunido com a desembargadora "por designação" dos outros diretores da Anac. A explicação, no entanto, é conflitante com a versão do diretor de Segurança Operacional, Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Jorge Luiz Brito Velozo. Ontem (22), ele disse à CPI que não tinha tomado conhecimento da instrução que determinava o uso de potência máxima dos reversos para os aviões que, em dias de chuva, pousassem em Congonhas. "Eu não trabalhei na resolução e nem tomei conhecimento de que ela estivesse sendo preparada”, afirmou Velozo.
O deputado Vic Pires (DEM-PA) apontou outra contradição da depoente ao ler trechos de e-mails trocados entre Denise e funcionários da Anac. Embora a diretora tenha dito desconhecer a instrução, o superintendente de Infra-Estrutura Luiz Miyada comunicou ao gerente Gilberto Schittini, em uma mensagem eletrônica, que “por determinação da Dra. Denise, esta última versão [do documento] deverá ser inserida no site da Anac para dar publicidade”.
A cópia do e-mail divulgado pelo deputado tem data do dia 31 de janeiro, mesmo dia em que a instrução foi publicada no site da Anac. E o assunto indicado no cabeçalho das mensagens refere-se sempre a Aeroporto de São Paulo/Congonhas – Operação com Pista Molhada.
O relator da CPI, Marco Maia (PT-RS), disse que poderá convocar Miyada, mas sugeriu cautela em relação aos e-mails, que segundo ele precisam de análise porque podem estar incompletos ou fora de contexto.
Denise Abreu informou estar sendo pressionada para deixar a Anac e disse que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, apenas exerceu seu direito ao pedir a abertura de processo administrativo para investigar o episódio: "Esse processo será oportuno para todos nós, diretores, porque poderemos apresentar todos os argumentos já expostos na CPI”. Ela também disse não concordar com a quebra dos seus sigilos fiscal, bancário e telefônico. A CPI do Apagão Aéreo no Senado já determinou a entrega dos dados.