Trocar impressões durante julgamento é rotina, diz ministro do STF

23/08/2007 - 11h24

Marcela Rebelo e Juliana Andrade
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - O ministro do SupremoTribunal Federal (STF) Ayres Britto nega que haja combinaçãode votos no julgamento da denúncia do mensalão, em queo Ministério Público Federal acusa 40 pessoas deenvolvimento em um esquema de compra de votos para apoio ao governo.Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, o ministrorespondeu que trocar mensagens eletrônicas durante a sessãofaz "parte de uma rotina dos ministros, trocamos impressões,não adiantamos voto nenhum".Hoje (23),reportagem do jornal O Globo mostra a reprodução deconversas mantidas no computador por ministros da Casa, pelaintranet, durante a sessão de ontem (22). Durante a sessão do julgamento, uma conversa entreos ministros Ricardo Lewandowski e Carmen Lúcia, na intranet,foi fotografada e reproduzida pelo jornal O Globo na ediçãode hoje. O diálogo mostra que ambos discutiam pontos do méritoda denúncia apresentada pelo Ministério PúblicoFederal.Segundo Ayres Britto,esse tipo de troca de mensagens é uma forma de descontrair umpouco a sessão. "Às vezes, a sessão émuito demorada, muito tensa e nós trocamos algumas impressões,mas ninguém adianta voto para ninguém. Quando um juizdecide, ele decide solitariamente, sentadinho no tribunal da suaprópria consciência", afirmou. O ministro afirmouque no STF não existe nenhum tipo de arranjo. "Aqui nãoexiste arranjo, não existe alinhamento, ninguém sealinha com ninguém".Sobre a possibilidadede a troca comprometer o julgamento, Ayres Britto disse que nãoacredita. "Não atrapalha. Esse julgamento estásendo conduzido muito bem pela presidente Ellen [Gracie, presidentedo STF]. Para ele, a divulgação das mensagens nãosignifica deslegitimação do processo e muito menos doSupremo. "Vamos tocar esse barco prá frente".O ministro considera,no entanto, que o jornal extrapolou. "Eu ainda não li.Algumas pessoas telefonaram me dando conta do conteúdo dareportagem, porém achei uma demasia. De acordo com AyresBritto, jornais bisbilhotam. "Invadem a privacidade da gente,mas isso não me afeta em nada", diz.O diálogo entreos ministros Ricardo Lewandowski e Carmen Lúcia mostra queambos discutiam pontos do mérito da denúnciaapresentada pelo Ministério Público Federal. Lúciaafirma que seria "conveniente" um encontro com Lewandowskie assessores para saber a opinião deles e a que está"dominando toda a comunidade".Lewandowski respondeque a sustentação do procurador-geral impressiona eafirma que mudar "à última hora écomplicado". Além disso, responde que está emdúvida "quanto ao peculato em co-autoria ou participaçãomesmo para aqueles que não são funcionáriospúblicos ou não tinham a posse direta do dinheiro".Carmen diz concordar que há dificuldade, mas pondera: "nãodá mais para o que eu cogitei e lhe falei... realmente, oufica todo mundo ou sai todo mundo". A suspeita relatada pelareportagem é que os diálogos poderiam configurarcombinação prévia de votos sobre a denúncia.