Juliana Andrade e Marcela Rebelo
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - O ministro do SupremoTribunal Federal (STF) Marco Aurélio de Mello comentou a troca de conversas mantidas por doisministros da Casa, pela intranet, durante o julgamento da denúncia,ontem (22) no plenário, contra 40 pessoas acusadas deenvolvimento no esquema do mensalão. Em entrevista exclusiva àAgência Brasil, Marco Aurélio não confirmouse havia combinação ou não de votos, mas disseque não costuma discutir voto com colegas. "Cada qual dosenvolvidos é que tem que sopesar [equilibrar, contrapesar,distribuir parcimoniosamente] o contexto. Eu, como juiz, nãocostumo discutir os meus votos, mas é um problema de foroíntimo. Eu assim procedo há 28 anos", disse.Hoje (23), reportagemdo jornal O Globo mostra a reprodução de conversasmantidas no computador por ministros da Casa, pela intranet, durantea sessão de ontem (22). Durante a primeira sessão dojulgamento, realizada ontem (22), uma conversa entre os ministrosRicardo Lewandowski e Carmen Lúcia, na intranet, foifotografada e reproduzida pelo jornal O Globo na ediçãode hoje. O diálogo mostra que ambos discutiam pontos do méritoda denúncia apresentada pelo Ministério PúblicoFederal.À pergunta sehouve invasão de privacidade ao fotografar as conversas, oministro respondeu que o homem público é um livroaberto. "Ele está na vitrine", respondeu. Jáo ministro Eros Grau, ao chegar ao STF para retormar a sessãode julgamento dos acusados do mensalão, criticou a situaçãoe disse que nunca viu esse tipo de procedimento no tribunal. "Nema imprensa entrar e interceptar correspondência, nem esse tipode diálogo", afirmou.Na seqüência,indagado se haveria combinação de votos, Eros Graupediu para os jornalistas levarem a pergunta ao ministro RicardoLewandowski. Os ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello nãoquiseram comentar o caso. Até o momento não houvenenhum pronunciamento oficial da presidência do STF para saberse a troca de mensagens entre os dois configurava ou não acombinação de um voto e a seus efeitos a partir dasregras do tribunal.A matéria dojornal O Globo mostra que nas mensagens trocadas entre os ministrosRicardo Levandowski e Carmem Lúcia há reclamaçõessobre Marco Aurélio, que é o novo presidente daprimeira turma do STF. "Quanto às referências àminha pessoa, eu penso que saí bem na fotografia. Qual oreceio da minha presidência? Cumprimento do dever? Sim, eubusco o cumprimento do dever como tenho demonstrado durante a minhavida profissional".O diálogo entreos ministros Ricardo Lewandowski e Carmen Lúcia mostra queambos discutiam pontos do mérito da denúnciaapresentada pelo Ministério Público Federal. Lúciaafirma que seria "conveniente" um encontro com Lewandowskie assessores para saber a opinião deles e a que está"dominando toda a comunidade".Lewandowski respondeque a sustentação do procurador-geral impressiona eafirma que mudar "à última hora écomplicado". Além disso, responde que está emdúvida "quanto ao peculato em co-autoria ou participaçãomesmo para aqueles que não são funcionáriospúblicos ou não tinham a posse direta do dinheiro".Carmen diz concordar que há dificuldade, mas pondera "nãodá mais para o que eu cogitei e lhe falei... realmente, oufica todo mundo ou sai todo mundo". A suspeita relatada pelareportagem é que os diálogos poderiam configurarcombinação prévia de votos sobre a denúncia.