Religioso alerta que incentivo à plantação de cana para o etanol pode aumentar trabalho escravo

09/08/2007 - 16h48

Yara Aquino
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O coordenador daCampanha Nacional de Combate ao Trabalho Escravo da ComissãoPastoral da Terra (CPT), frei Xavier Plassat, alertou hoje (9) que acontratação e a remuneração por produçãoque acontece nas lavouras de cana são um incentivo ao trabalhoalém do limite. Segundo ele, a produtividade diáriaexigida de um cortador de cana duplicou dos anos 80 até hoje. O alerta foi dado na da SubcomissãoTemporária do Trabalho Escravo no Senado, que discutiu o riscodo incentivo ao cultivo de cana-de-açúcar para aprodução de etanol resultar em aumento do trabalhoescravo no país. De acordo com frei Plassat, o recente estímuloà produção de cana é preocupante, se nãoforem colocadas condicionalidades. “É preciso colocarcondicionalidades para que essa expansão da produçãose faça dentro de parâmetros social e ambientalmenteviáveis”, defendeu.Entre as condições defendidas pelofrei estão a rediscussão da forma de contrataçãodo trabalho, o pagamento por produção e o fim daterceirização das atividades. Ressaltou tambémque é preciso atentar para a questão da terra. “Háque ver como essa pressão redobrada sobre as terras vai secombinar com os projetos de reforma agrária”, disse. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, no entanto,disse que é preciso ter cautela para que o argumento docombate ao trabalho escravo não seja usado como forma deatrapalhar o projeto brasileiro da produção debiodiesel. “Fazer essa associação do trabalhoescravo para condenar o etanol é uma manipulaçãocontra os interesses nacionais. Muitos querem usar indevidamente demaneira desleal”, afirmou. A coordenadora do Projeto de Combate ao TrabalhoEscravo da Organização Internacional do Trabalho (OIT),Patrícia Audi, informou que são poucas as empresas na“lista suja” por utilizarem o trabalho escravo em culturas decana-de-açúcar. Disse que em 2005 o maior resgate detrabalhadores escravos aconteceu em uma destilaria do Mato Grosso eque há cerca um mês 1.084 pessoas foram libertadas emuma fazenda de cana no sul do Pará. Já o subprocurador-geral do Trabalho LuizAntônio Camargo disse que é preciso estar atento para osrumos do etanol para evitar mortes de trabalhadores por esgotamentoapós cortar toneladas de cana, denunciadas recentemente.