Brasil gasta R$ 32 bilhões anuais com acidentes de trabalho

27/07/2007 - 10h37

Irene Lôbo e Juliana Andrade
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - Além de sofrimento e custos sociais incalculáveis, os acidentes de trabalho geram um prejuízo financeiro significativo para o Brasil. Por ano, o país gasta R$ 32 bilhões (ou 4%do Produto Interno Bruto) com despesas relacionados a acidentes detrabalho.Estão incluídas nesse cálculo as indenizações pagas pela Previdência Social, oscustos em saúde e a perda de produtividade do profissional.  De acordo coma Previdência Social, do valor total de gastos, cerca de R$ 8 bilhõescorrespondem a benefícios acidentários e aposentadoriasespeciais.No Dia Nacional de Prevençãode Acidentes de Trabalho, dados da Organização Internacionaldo Trabalho (OIT) mostram que o gasto no mundo corresponde a 4% do Produto Interno Bruto mundial, ou seja, tudo que os países produzem em serviços e bens. Considerando dados do World Development Indicators database, que estima o PIB mundial em US$ 44,6 trilhões, as perdas mundiais com acidentes de trabalho (registrados) seriam de US$ 17,84 bilhões. De acordo com o médico e consultor da OIT, Zuher Handar, uma análisefeita pela organização mostra que esses 4% são 20 vezes maior que toda a ajudaoficial do mundo direcionada ao desenvolvimento.

Segundo a OIT, dos cerca de 270 milhões de ocorrências mundiais envolvendo trabalhadores em 2005,  160 milhões foram doençasdo trabalho. Do total de ocorrências, 2,2 milhões resultaramem morte, das 360 mil decorrentes de acidentes tipicamente relacionados ao trabalho.

“Certamenteque nos países industrializados, mais desenvolvidos, há muito maisinvestimento em segurança e saúde, e estes números tendem adiminuir. Nos países em desenvolvimento, esses números persistem altos. E aí temos países mais pobres, em que o número é maior ainda”, afirmaHandar.

Estudo do BancoInteramericano de Desenvolvimento (BID) na América Latina mostra queocorrem entre 20 e 27 milhões de acidentes de trabalho na região, dosquais 90 mil fatais. Pelo levantamento, 250 pessoas morrem por dia e, a cada sete minutos, acontecem entre 40 e 50 acidentes nos ambientes detrabalho.

O estudo “Segurança e Saúde no Trabalho na América Latina e no Caribe:Análise, Temas e Recomendações de Política” foi publicado pelo BancoInteramericano de Desenvolvimento (BIB) em 2000.

AOrganização Internacional do Trabalho (OIT) estima que os países daAmérica Latina e do Caribe perdem US$ 76 bilhões por ano com mortes elesões causadas por doenças do trabalho. Segundo a entidade, issosignifica algo entre 2% e 4% do Produto Interno Bruto (PIB) da região.

SegundoHandar, a OIT recomenda que todos os países-membros, entre eles oBrasil, criem uma Política Nacional de Segurança e Saúde doTrabalhador. No ano passado, o organismo internacional editou aConvenção 187, que aborda a segurança e a saúde no trabalho.

“Elaestabelece que os países-membros deveriam promover uma melhora contínuada segurança e saúde no trabalho, para prevenir os danos, asenfermidades, as mortes, relacionadas ao trabalho”,afirma.

Paratentar diminuir o número anual de acidentes de trabalho e o custo paraos países, um grupo de especialistas do BID responsável pelo estudosobre segurança no trabalho sugerem que os governos ofereçam crédito abaixas taxas de juros para pequenas e médias empresas que invistam naaquisição de equipamentos de segurança.

Outrarecomendação do BID é a divulgação de informações sobre segurançaocupacional e de uma lista de “melhores práticas” na área de prevençãode acidentes e doenças. Como medida punitiva, o estudo sugere aaplicação de multas pela importação de produtos químicos ou pesticidastóxicos.

O presidente daFundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho(Fundacentro), Remígio Todeschini, afirma que o Brasil tem diminuído a taxa de incidênciade acidentes de trabalho e de mortalidade, mas que as estatísticasainda representam o dobro do que é registrado nos países desenvolvidos.“Há um desafio muito grande a serperseguido e há um esforço do governo brasileiro no Ministério doTrabalho em ampliar esse trabalho de prevenção, o trabalho defiscalização e o trabalho de aperfeiçoamento da legislação”.