Marcos Agostinho
Da Agência Brasil
Brasília - Pelos corredores do 12º Congresso Internacional de Odontologia e do 2ºCongresso de Odontologia Militar, é voz corrente que o atendimentopúblico na área deixa a desejar e que os governantes precisam investirmais em prevenção. A primeira constatação é de pacientes que procuram o serviço gratuito oferecido durante o evento, que começou ontem (25)e termina domingo, em Brasília. A segunda é de profissionais daAssociação Brasileira de Odontologia (ABO).As cerca de 300senhas disponibilizadas para atendimento à população ontem e hoje foramdisputadas por mais de 600 pessoas. Amanhã e sábado, a oferta serámenor: 240 senhas.“A procura é tão grande devido ao nosso próprio sistema de saúde. Aspessoas não conseguem ter acesso ao atendimento, então quando aconteceum evento como esse, todo mundo corre atrás”, disse Marcia Maria ValeNeves, coordenadora de Odontologia do Serviço Social do Comércio(SESC), parceiro do Congresso e responsável por prestar atendimentodurante os quatro dias do evento.Paulo Macedo é prova disso. Ele conta que ao procurar o posto de saúdepara fazer uma obturação, foi orientado a voltar em um prazo de seismeses. “Procurei atendimento e desisti. A demora para que as coisasaconteçam torna os atendimentos inviáveis. Ou você tem dinheiro ou temque esperar um tempo enorme para receber um atendimento que muitasvezes se restringe a arrancar seu dente”.A coordenadora do Sesc destaca a atuação dos Ceos (Centros deEspecialização Odontológicos), responsáveis por oferecer aos cidadãosserviços que vão além da extração. Mas ressalta que a quantidade deunidades ainda é baixa para a demanda existente. “Penso que énecessário investir muito mais em prevenção e tentar minimizar osdanos, já que a extração é uma mutilação. Nesse sentido, é preciso queos tratamentos disponíveis se tornem cada vez mais complexos”.Para Samir Najjar, dentista e um dos representantes da ABO no evento, aextração é o procedimento mais realizado no sistema público devido aopreço dos materiais e procedimentos odontológicos. “O custo é muitoalto, então o paciente que chega com dor, é muito mais fácil arrancaresse dente do que fazer um tratamento de canal, por exemplo. Fazer umcanal requer uma prótese, material, laboratório, e isso é muito caro”.Diante dos altos custos e da impossibilidade de realizar atendimentocompleto para toda a população, tanto Samir Najjar quanto Milton CarlosGabin, outro represante da ABO, defendem o investimento em prevençãocomo a principal forma de melhorar a saúde bucal dos brasileiros. Navisão deles, essa prevenção passa por fornecimento de água com flúor,promoção do uso de flúor individual nas escolas, esclarecimento sobre anecessidade e benefícios de uma escovação correta, entre outrasprovidências. “Essas medidas preventivas são, com certeza, mais baratase mais eficazes do que o tratamento curativo”.Sobre a atuação do governo federal, Najjar destaca o programa BrasilSorridente, do Ministério da Saúde. “É um programa muito amplo, que jáapresenta 543 unidades em funcionamento no país, mais de 70 mildentistas contratados que realizam atendimentos através do SUS [Sistema Único de Saúde]. É um primeiro passo para se chegar nesse patamar que falamos”.