Bárbara Lobato
Da Agência Brasil
Brasília - Convivendo com a hanseníase desde os cinco anos, Vicente Pinto Leite, 73 anos, considera a Medida Provisória 373 uma "conquista". A medida determina uma pensão de R$ 750 mensais às pessoas atingidas pela doença que foram isoladas do convívio social, em hospitais-colônia. Vicente Leite é umas das cerca de 3 mil pessoas que terão direito ao benefício, segundo estimativa da Secretaria Especial de Direitos Humanos.Vicente Leite chegou a arriscar um tratamento, que se mostrou falso. "Tinha um médico que chegou na roça com comprimido e disse que aquilo é que curava. Então meu pai vendeu 20 vacas pra pagar uma caixinha de vitamina. Aí a gente ficou lá na roça com esse falso médico e esses comprimidos", disse.Aos 20 anos, Vicente e o pai foram indicados por um médico à Colônia Santa Marta, no município de Goiânia. O pai, em fase terminal, não aceitou acompanhar Vicente. "Lá na roça não tinha tratamento e o pessoal falava que no leprosário tinha um corredor que matava a gente queimado. Diziam que a pessoa desaparecia, então não procurei tratamento por isso, por ter medo".Quando Vicente foi levado à Colônia de Santa Maria, deixou o pai e a família. "Peguei a ambulância e quando cheguei lá foi a maior tristeza do mundo". "Naquela época, a gente era obrigado a vir pra colônia. A gente era obrigado a ir embora de casa sem direito a nada. Ninguém aceitava a gente". Só depois de um ano isolado na colônia é que alguns tinham direito a visitar a família.Segundo ele, a maioria não saía pois a própria família não aceitava um "leproso em casa". Segundo ele, na década de 60 e 70, por exemplo, as pessoas tinham muito preconceito em relação à doença. "Naquela época nós passávamos por vários constrangimentos. Não podíamos nem encostar o dedo nos nossos filhos pois eles já eram levados para o preventório. Muitas mães ficaram loucas pois não podiam pegar nos filhos", disse.As 300 famílias que ainda vivem na Comunidade de Santa Maria, por falta de alternativa de moradia ou contato com a familia, fazem parte do contingente das cerca de 3 mil pessoas que têm direito a receber a pensão do governo, segundo estimativa da Secretaria Especial de Direitos Humanos.Antes da medida provisória algumas famílias recebiam um salário mínimo do governo para ajudar com as despesas médicas e alimentícias. E, na opinião de Leite, o valor era insuficiente para cuidar dessas necessidades."As mulheres com seqüelas [parte das mãos e dos pés, principalmente] são obrigadas a trabalhar pois um salário mínimo não dá pra pagar nem uma diarista. E com essa medida já dá pra pagar alguém pra fazer as coisas [trabalhos domésticos] pra gente". Além disso, ele considera o atual valor da pensão uma ajuda adicional para o tratamento das seqüelas resultante da hanseníase.Conhecida também por lepra, a hanseníase é uma doença infecto-contagiosa causada por uma bactéria, que compromete principalmente a pele e os nervos. A doença tem cura e o tratamento pode durar de seis meses a um ano. As pessoas que tiverem dúvidas em relação ao pagamento da pensão ou sobre a hanseníase, podem ligar para o Telehansem no 0800 26 2001.