Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O jovem estáexposto à TV aberta quando, por exemplo, os pais nãoestão junto. Os pais deveriam controlar, mas na ausênciadeles, solidariamente os produtores de televisão têm queassumir essa responsabilidade.A opinião édo diretor de programação da MTV, Zico Góes.Para ele, os produtores deTV "podem produzir ou criar o programa mais estranho ouabsurdo possível: é só não colocar nohorário a que um menor estará exposto”.Nesta segunda parte de sua entrevista àAgência Brasil, Góes afirmou que a MTV vai acataras novas regras para classificação indicativa natelevisão, em vigor desde ontem (12), e vai continuarclassificando os programas como sempre fez, até porque esseassunto não é novo. ABr: Vocêdisse que não há censura. Mas a medida não érestritiva?Góes: É claro que érestritiva porque restringe você de fazer um programainadequado para um menor de idade. Mas isso é o combinado, nãorestringe a liberdade de expressão. O menor estáexposto ao meio TV aberta quando, por exemplo, os pais nãoestão junto. Não tem quem controle. Os pais deveriamcontrolar, mas na ausência deles, solidariamente os produtoresde televisão têm que assumir essa responsabilidade. Elespodem produzir ou criar o programa mais estranho ou absurdo possível:é só não colocar no horário em que ummenor estará exposto. Acho que a maioria das TVs acaboupuxando esse véu da volta da censura meio que para esconder averdade: que elas iam perder dinheiro se a novela tivesse que mudarde horário ou se a novela, para não mudar de horário,não pudesse ter cenas tão picantes ou violentas.ABr:Ou seja, sexo e violência para atrair o telespectador?Góes:Aparentemente, é uma fórmula já desgastada queatrai o telespectador. Já nem concordo com isso. Acho que oque falta, no fundo, é criatividade. Você consegueatrair o telespectador mesmo sem ter que apelar para esse tipo decoisa.ABr: A MTV vaimudar alguma coisa para se adequar à nova portaria?Góes:Não. A MTV vai acatar o que está na portaria e vaicontinuar classificando os programas como sempre fez, atéporque esse assunto não é novo. Fica parecendo queapareceu esse ano, mas é uma coisa tão antiga! A gentejá fala da classificação há tantos anos.Todo país é assim, toda sociedade democrática éassim. Há limites para a liberdade de expressão. Ascrianças e adolescentes têm direitos que os adultos nãotêm. E isso a sociedade combinou, está na Constituição,no Estatuto da Criança e do Adolescente. Então vamoscontinuar, porque a gente sempre fez.ABr: A adequaçãodas TVs à nova portaria vai exigir muito investimento? Quantoa MTV investiu?Góes: Zero. Não investiunada. É o que estou dizendo: a questão econômicapassa pela mudança do horário. Por exemplo: a novela daGlobo ou os programas da Record ou de qualquer outra emissora quepassam às 9 horas da noite. Se tiverem que reclassificar,baixar ou subir o horário, perdem Ibope e dinheiro. A razãoé essa. Não existe um investimento para se adequar àclassificação indicativa. Existe a vontade de atender auma necessidade, um direito, ou passar por cima disso. O únicoinvestimento que as TVs talvez tenham que fazer é em relaçãoao fuso horário, porque o fuso vai fazer com que vocêtenha uma grade em São Paulo, uma grade no norte do paíse assim por diante.ABr: O prazo de 180 dias dado pelogoverno para a adequação vai ser ideal para asemissoras?Góes: Eles vão reclamar, mas éclaro que é suficiente, basta querer.