Marcela Rebelo
Enviada Especial*
Alcântara (MA) - O foguete VSB-30 levaráao espaço nove experimentos científicos elaborados porpesquisadores brasileiros. Um deles feito em parceria com aUniversidade de Hohenheim, da Alemanha. São experimentos nasáreas de Biotecnologia, Engenharia, Física,Nanotecnologia e Medicina. “Temos alguns experimentos que sãopuramente científicos que estão apenas aumentando onosso conhecimento. Outros já estão mais direcionados àquestão de saúde, por exemplo”, destacou o supervisordo Programa Microgravidade, Raimundo Mussi.Um desses estudospoderá ajudar no tratamento de enxaqueca, epilepsia e amnésia.Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Energéticas eNucleares (Ipen), em parceria com a Universidade de Hohnheim, queremmedir a velocidade de propagação de ondas cominterferência de forças eletromagnéticas emambiente de microgravidade.“O que a gente estáestudando são velocidades de propagação de ondasem um sistema que a gente chama de sistema excitável. Naverdade é uma simplificação de um tecidobiológico muito mais complexo como, por exemplo, o coração,em que ondas sucessivas fazem com que ele pulse de forma ritmada”,explicou o pesquisador do Ipen Patrick Spencer, que participa doprojeto.Três amostras de gel serão monitoradaspara que os pesquisadores identifiquem as reações de ummaterial sintético chamado de B-Z, que simulará areação do organismo humano. “A idéia éentender como essas ondas funcionam e o papel que a gravidadedesempenha na velocidade de propagação dessas ondas”,disse Spencer.“Aqui na terra a gente já estudou essapropagação. Mostramos que na gravidade 1, tem umavelocidade X. A pergunta agora é: será que a gravidadeinterfere ou não? Nossa hipótese é que, emcondições de microgravidade, a onda, ao invés deir mais rápido, ela vá mais devagar. Mas isso éuma mera hipótese, tem de ser experimentado. A idéia deenviar justamente esse material na Cumã é testar anossa hipótese”, explicou.Segundo o pesquisador,essas ondas são similares às envolvidas na enxaqueca,na epilepsia, na pulsação cardíaca e em algunstipos de amnésia. “O entendimento das forças, quefazem com que essas ondas apareçam, é um pequeno passono intuito de melhorar a condição de vida das pessoasque apresentam essas patologias”.Quatro dos experimentosque serão levados pelo foguete VSB-30 são continuaçõesdos estudos feitos pelo astronauta Marcos Pontes na EstaçãoEspacial Internacional (ISS). Durante a Missão Centenário,cada experimento pôde ficar até oito dias em ambiente demicrogravidade. No caso do VSB-30, a exposição a essetipo de ambiente é de pouco mais de seis minutos. “Emborase tenha uma duração menor em ambiente demicrogravidade no foguete de sondagem, a qualidade da microgravidadeé melhor”, explicou o coordenador dos experimentos noVSB-30, Flávio de Azevedo Corrêa Júnior.“NaEstação Espacial você tem interaçãoda própria tripulação - fechando uma porta,espirrando, fazendo exercício - e o próprio sistema deágua e o de ar que mantém a estação criamacelerações ao longo de toda a estrutura, fazendo comque o ambiente de microgravidade não seja muito puro. Nofoguete de sondagem você não tem nada disso”,completou o coordenador.“São meios complementares.Eles tiveram uma amostra lá e agora terão outro vôoaqui no foguete de sondagem. Isso na realidade é um projetoúnico”, disse. O supervisor do Programa Microgravidadedestaca que os experimentos nos espaços sãoinstrumentos oferecidos para pesquisas que já estãosendo realizadas há algum tempo. “Estamos dando apenas umaferramenta para melhor desenvolver esses projetos”, afirmou Mussi.