Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Menos da metade dos universitários brasileiros - 43,6% - estuda entre uma e duas horas por semana além do horário de aula, 34% lêem no máximo dois livros por ano, excetuando os escolares, e 41,3% se informam mais pelo televisão.A conclusão integra os dados do questionário socioeconômico aplicado aos estudantes que participaram do Exame Nacional de Desempenho (Enade) 2006.A justificativa para a pouca dedicação à leitura e ao estudo está na falta de tempo dos alunos. Segundo o Enade, 68,2% dos universitários brasileiros estudam à noite e 73,2% trabalham durante o dia.“É importante lembrar que o ensino superior brasileiro éessencialmente noturno, privado e pago. O setor privado atrai muito aluno que precisa trabalharpara manter a faculdade e se sustentar. Então, quem estuda à noite etrabalha durante o dia, certamente não tem muito tempo para estudar”, avalia o diretor de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), Dilvo Ristoff.Com o Enade de 2006foi concluído o ciclo de avaliações de todas asáreas do conhecimento. O primeiro grupo avaliado foi nas áreas de saúde e agrárias, em 2004, seguido por engenharias elicenciaturas, em 2005, ciências sociais aplicadas ejurídicas, no ano passado.A partir do cruzamento de dados dos grupos, foi possível observar, por exemplo, quea maioria dos estudantes da área de saúde veio deescolas particulares. Os estudantes de licenciatura, ao contrário, vieram do ensino público. No casode Medicina, apenas 8,2% estudou em escola pública. No curso de Letras, esse percentual sobe para 70%.O diretor explicaque as diferenças geralmente estão relacionadas com aorigem social dos estudantes. “Os grupos expressam valores muito diferentes por causa da origem social. Por exemplo,o grupo das licenciaturas dava um índice com pais semescolaridade quatro vezes maior que o grupo de saúde e agrárias. Em todo o universo, a média de filhos de pais sem escolaridade é de 5,1%”.Segundo ele, os dados levam à conclusão de que é preciso pensar em políticas públicas de acesso aoensino superior para estudantes do ensino público de acordocom a área de conhecimento.“A política teria queconsiderar essa disparidade na representação da origemdos alunos. É a idéia de política de reservas decotas. Não adianta reservar no todo, tem que reservar por áreade conhecimento. Essas é uma das revelaçõesclaras, insofismáveis do relatório socioeconômico”.Ristoff acrescenta que diferenças por raçaacompanham, em geral, diferenças socioeconômicas. Ele afirma que mulatos e pardos têmencontrado maior dificuldade de acesso à educação.“O grande problema das representação racionalcontinua sendo entre os mulatos e pardos. Entre os pretos e negros, namédia do ciclo, a representação estáquase pari- passo com a representação na sociedade. Ospardos têm uma representação quase que 20% abaixodo que sua representação da sociedade”.Os dados do Enade também revelam a forma como osestudantes se informam. Apesar de a televisão ser o principalmeio de informação sobre o mundo para 41,3% dospesquisados no Enade 2006, o diretor afirmou que, ao analisaros ciclos de cursos, observou-se que a TVestá perdendo espaço para a internet.No exame do ano passado, cerca de 47% preferia a televisão, o que mostra uma reduçãode 22 pontos percentuais em relação aos dados de 2002 (quando eraaplicado o Provão, substituído pelo Enade). A média da internet dos últimos três anos éde 33,2%, sendo que em 2002 era de 9,5%.O diretor pondera que os dados mostram uma tendência, apesar de o Provão avaliar 24 áreas de conhecimento e o Enade pelo menos 48.