Ana Luiza Zenker
da Agência Brasil
Brasília - Encontrarum modelo de cidade que consiga abrigar a crescente populaçãourbana sem causar impactos ambientais muito grandes. Este éum dos desafios que a sociedade tem de enfrentar, de acordo com osnúmeros apresentados pelo relatório do Fundo de População das NaçõesUnidas (UNFPA), divulgado na última semana.Paraa professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC)de Campinas (SP) e ex-secretária nacional de Programas Urbanosdo Ministério das Cidades, Raquel Rolnik, “o modelo decidade sustentável para o futuro é um modelo de cidadeonde você tem casas, apartamentos, com espaçosuficiente, para as pessoas poderem se sentir bem, dormir, descansar,comer, ler, estudar, mas sobretudo espaços públicos dequalidade: bibliotecas, salas de concertos, parques, jardins, paraque a gente possa viver na cidade, e não na casa."Rolnik chama a atenção para uma das características negativas da urbanização atual, a expansão horizontal das cidades, comcondomínios e loteamentos nas áreas periféricas. Segundo ela, esse fenômeno traz impactosambientais significativos, inclusive uma maior emissão de gasesque causam o efeito estufa e o aquecimento global, em virtude do maior deslocamento em automóveis.A especialista lembra que esse "espraiamento" das cidades também está ligado à incorporação de pessoas de baixa renda às cidades, de forma autônoma, por loteamentos irregulares, por exemplo, e há mesmo casos em que há apoio do poder público para essa expansão. O problema é agravado pela adoção em massa pela classe média dos condomínios fechados.Essa “urbanizaçãodispersa”, segundo Rolnik, poderia ser evitada se houvesse maneiras mais racionais de organizar o espaço urbano mais central, já dotado de infra-estrutura. Prédios mais baixos e casas geminadas ou superpostas são alternativas apontadas por ela. “O que uma boa cidade deve ter sãoespaços públicos de qualidade, parques, quadras,praças, jardins, calçadas, arborizaçãourbana, de tal maneira que você more num lugar talvez pequeno ebastante denso, mas atravessa a rua está numa praça,num parque, numa quadra", diz ela. "O modelo de cidade que funciona é ummodelo onde a estrutura básica da cidade é umaestrutura de espaços públicos.”Para se chegar a esseideal, a professora diz que o papel do poder público é fundamental. O problema é que, segundo ela, as ações ainda são muito fragmentadas e pouco coordenadas. “A gestão ambiental é separada da gestãourbanística, separada da gestão de transportes,separada da política de habitação. Essafragmentação torna a questão da administraçãoda cidade, do controle do processo de uso e ocupação dosolo, muito precária.”