Maurício morreu no mesmo dia em que ONU alertava para riscos da urbanização mundial

01/07/2007 - 14h12

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Acomemoração de 14 anos da criação oficialda cidade de São Sebastião, a 20 quilômetros de Brasília,no início da semana passada, não contava com uma notícia que pode diminuir a festa. O estudante Maurício Teixeira de Brito morreu na últimaquarta-feira (27) com suspeita de hantavirose, doença transmitidapor um roedor silvestre, que, entre 2004 e 2005, assustou os moradoresao provocar a morte de 18 pessoas no DF, a maioria, moradores de SãoSebastião.

Maurício morreu no mesmo dia em que o Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) divulgou seu relatório sobre a situação da população mundial. A previsão é que, em 2008, metade das pessoas do mundo estará morando em cidades. Mas uma boa parte delas em condições precárias, como é o caso da família do jovem de São Sebastião.

Aresponsável pelo Núcleo de VigilânciaEpidemiológica de São Sebastião, Maria JoséMendes, conta que o caso de Maurício foi a primeira suspeitade hantavirose este ano, mas outras doenças relacionadas àocupação humana de áreas de cerrado sãocomuns entre os atendimentos do núcleo. “Há casos deleishmaniose e de febre maculosa, que é transmitida por umcarrapato silvestre.”

A casa deMaurício fica no Residencial Vitória, um dosloteamentos mais recentes de São Sebastião, em que ascasas ficam a poucos metros de áreas densas de cerrado. Élá que o piauiense Raimundo Araújo mora com a esposa eos filhos gêmeos de sete anos. “Os meninos ficam só doportão para dentro, não gosto que eles fiquem na poeiranem deixo brincar no meio do mato para não pegar doença”,conta o pai preocupado.

Raimundodeixou a terra natal dez anos atrás para tentar a vida emBrasília. Depois de idas e vindas, conseguiu trabalho comcarteira assinada e fez a mudança definitiva. A casa dealvenaria com tijolos aparentes, portão baixo e quintal amploonde correm galinhas e cachorros foi construída hápouco mais de três anos em um terreno comprado de um chacareiroe dividido em quatro partes entre primos e irmãos.

Uma dasvizinhas, a prima Delnais Teixeira, é a mãe doestudante Maurício. Segundo a família, dias antes demorrer, Maurício capinou um terreno ao lado de sua casa, e ocontato com o hantavírus pode ter acontecido neste local, de acordocom o Núcleo de Vigilância Epidemiológica de SãoSebastião.

A tia deMaurício, a vendedora Dejanira Soares, disse que a famíliaespera o resultado do exame que vai confirmar a causa da morte,mas acredita que o fato não pode ser considerado um casoisolado, porque há descaso generalizado em relação à população daárea.

Ela reclama da falta de saneamento básico e da ausência deinvestimentos em infra-estrutura e serviços de saúde nobairro empoeirado. “Só apareceram aqui depois da tragédia.Será que é preciso esperar alguém morrer parafazer alguma coisa para melhorar a vida das pessoas?”, desabafa.

O laudoque vai apontar se a causa da morte do estudante foi mesmohantavirose deve ficar pronto nos próximos quinze dias.