Ana Luiza Zenker
da Agência Brasil
Brasília - Brasília, a capital federal, oferece bons exemplos da problemática relacionada ao relatório do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) sobre urbanização, divulgado na última semana. Segundo o documento, em 2008, metade da população mundial, cerca de 3,3 bilhõesde pessoas, estará morando em áreas urbanas. Projetada para abrigar500 mil habitantes, Brasília cresceu mais do que o esperado, emilhares de pessoas que vêm para a capital federal acabam seinstalando nas cidades do entorno, muitas vezes em núcleosrurais, áreas de nascentes e córregos. “Váriasáreas hoje são cidades, não têm maisnenhuma característica rural”, diz a professora epesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) JeanineFelfili. Para ela, falta a mão do Estado no controle eordenamento da ocupação urbana no Distrito Federal. Jeanine diz que essassão áreas sem condições adequadas para aocupação humana e que os dejetos gerados pela ocupação humana acabam por poluir asfontes de água. “Vamoschegar rapidamente num ponto em que não teremos águapotável e de boa qualidade para beber”, afirma ela.Não sãoapenas as fontes de água do DF que sofrem com a ocupaçãoinadequada do espaço. De acordo com a professora ErmíniaMaricato, da Universidade de São Paulo, as grandes metrópolesbrasileiras abrigam verdadeiras “bombas socioambientais”,por causa da “poluição total dos rios, de lagos,lagoas, às vezes de praias, com esgoto, de todo esse problemada ocupação de áreas inadequadas com moradiainformal, favelas, loteamentos ilegais”. Além da questãoda água, a professora do Departamento de Engenharia Florestalda UnB aponta outro problema: a proliferação de agentes quetransmitem doenças associados à presença depoluição, como mosquitos e ratos. “Hoje a gente tem aleishmaniose aqui no DF, a hantavirose, uma série de doençasque estão ligadas à presença humana, àpoluição”, lembra. A pesquisadora explica que algumasdessas doenças são típicas das áreasrurais e que todas passam para o homem por causa do assentamento emáreas impróprias.Segundo dados dogoverno do DF, em 2006 foram confirmados 75 casos de leishmaniose,incluindo os dois tipos da doença, a visceral e a tegumentaramericana, que em 2007 já foi identificada em 28 pacientes. Emrelação à hantavirose, doença transmitidapor ratos silvestres, o número de casos tem diminuído.Em 2004, ano em que pela primeira vez foram identificados casos dadoença com transmissão no DF, foram confirmados 28casos. Em 2005, esse número caiu para 16 casos confirmados,seis em 2006 e um este ano, até agora.Para Felfili, a melhorforma de evitar que o problema se agrave é o governo intervirno avanço da ocupação horizontal, com casas econdomínios. Ela diz que isso pode ser feito tanto por meio deum planejamento que respeite as condições ambientaiscomo por meio do financiamento imobiliário que possibilite quepessoas de renda média e baixa consigam adquirir moradia naárea original de Brasília. A professora afirma que o governodeve atuar “de forma que as pessoas vivam em condiçõesde salubridade e não de insalubridade, como elas têmvivido". 'Isso passa não só pelo planejamento das áreas,mas também pelo financiamento público da habitação.”