Juiz afirma que principal empecilho à adoção está nas restrições à escolha de crianças

24/05/2007 - 7h08

Flávia Martin
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A burocracia não é o principal problema enfrentado pelas famílias que querem adotar uma criança no Brasil. A preferência por crianças brancas e com menos de um ano de idade acaba tornando o processo lento, pois o perfil das cerca de 8 mil crianças que esperam por um lar adotivo costuma ser bem diferente do que espera a maioria das pessoas.A opinião é do juiz da Vara da Infância e Juventude de Florianópolis (SC), Francisco Oliveira Neto, coordenador da campanha Mude um Destino", lançada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), nessa quarta-feira (23), no Rio de Janeiro, para estimular a adoção e melhorias nos abrigos do país. De acordo com o juiz, crianças com mais de quatro anos de idade acabam não encontrando uma família adotiva e ficam nos abrigos até completar 18 anos."O grande problema é que as pessoas escolhem demais, restringem a escolha. A maioria das crianças que está no abrigo para ser adotada já é mais velha, tem quatro, cinco ou seis anos, não é branca, muitas vezes é portadora de algum tipo de necessidade especial, enquanto as pessoas escolhem uma criança com menos de um ano, branca e sem irmãos no abrigo", afirmou Oliveira Neto.O número de crianças adotadas a cada ano no país é desconhecido, pois não há um órgão centralizador que reúna essas informações. Em 2004, o então senador Sérgio Cabral, atual governador do Rio, enviou um projeto de lei, recentemente encaminhado para votação na Câmara dos Deputados, que trata da criação de um cadastro nacional de adoção. A relação incluiria crianças e jovens em condições de adoção e pessoas interessadas em adotar. Esse cadastro seria incluído no Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990. O juiz Oliveira Neto disse que a existência de um órgão centralizador das informações sobre a adoção no Brasil seria de grande importância na hora de convencer uma família a adotar uma criança mais velha."Em Florianópolis, as últimas dez famílias que decidiram adotar crianças com menos de um ano de idade esperaram, em média, três anos e meio, enquanto a adoção de uma criança mais velha pode ter esse tempo reduzido para um ano e meio, dois anos. As pessoas têm a fantasia de que uma criança com menos idade terá menos problemas futuros decorrentes do abandono, o que nem sempre é verdade", argumentou.