Atuação da Austrália no Timor Leste preocupa governo brasileiro, diz embaixador

20/05/2007 - 10h48

José Carlos Mattedi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A atuação econômicae militar da Austrália em Timor Leste preocupa o governobrasileiro. Segundo o embaixador Antônio José Maria deSouza e Silva, representante do Itamaraty nesse pequeno paísdo extremo sudeste da Ásia, os australianos buscam“isoladamente” influenciar nas ações locais,enquanto os países lusófonos – incluindo o Brasil –tentam manter as raízes culturais portuguesas na região.Ou seja, há uma disputa “surda” pelo protagonismo no TimorLeste.

“A ação da Austrália preocupa.Gostaríamos de manter a lusofonia nesse país,reintroduzindo a língua portuguesa e trazendo o Timor para oseio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa(CPLP)”, sublinha o embaixador, que enfatiza: “Nósgostaríamos que o país pudesse estabelecer sua própriaforma de governo, suas alianças internacionais, seminterferência da Austrália. Essa é a nossapreocupação, de poder preservar a independência ea soberania do Timor”.São oito os paíseslusófonos: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique,Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipee Timor Leste, que passou a integrar a CPLP em 2002.Ex-colôniaportuguesa e há sete anos independente da Indonésia,que invadira o território em 1975, o Timor tenta se reerguerapós séculos de exploração internacionale violência interna. O português e o tétum têmstatus de línguas oficiais, mas a maioria dos timorenses falaapenas a segunda, que é o idioma nativo. Com uma economiafrágil, o petróleo é visto como uma das soluçõespara o desenvolvimento local.O mar é a fronteira entreo Timor e a Austrália. E nele está a esperançados timorenses: o petróleo – explorado pelos australianos,inclusive em águas pertencentes ao país vizinho,segundo entidades internacionais. Como no Timor Leste nãoexiste indústria ou turismo, as pessoas vivem da agriculturade subsistência e de uma “rala” exportação decafé. O petróleo e o gás tornam-se, então,a principal fonte de rendimentos.A Austrália, segundoo embaixador brasileiro, mantém uma tropa de 1.300 homens nopaís, sem estar diretamente subordinada ao comando militar dosBoinas Azuis da Organização das NaçõesUnidas (ONU), que atuam na região, e já firmou umacordo de exploração de petróleo com o governolocal. Para tentar frear essa influência militar e econômica,Brasil e Portugal investem em educação, formaçãoprofissional e militar dos timorenses, e estreitam relaçõesgovernamentais.

“É uma força desigual[dos australianos], mas a questão de reafirmaçãoda língua [portuguesa] é muito importante para nós,além de apoiar os governos democraticamente eleitos”, pontuaSouza e Silva.A “tropa” luso-brasileira é maisburocrática. O Brasil, por exemplo, enviou 50 professores, queatuam nos níveis fundamental, médio e superior; cincojuízes que trabalham nas cortes locais; e um grupo demilitares que ajudam na formação de soldados epoliciais. Quatro técnicos parlamentares brasileiros tambémserão enviados para ajudar no funcionamento do Legislativo,além de introdução de um programa na áreade agricultura.Essa falta de pessoal leva o embaixador a umaconclusão: “O grande desafio do Timor é a falta derecursos humanos. Não há quadros capacitados em todosos níveis para gerir o país. E o Brasil estáajudando com grande empenho”.Em relação àpolítica interna, Souza e Silva assinala que “o grande temoré que não haja uma reconciliaçãonacional”. O país passará por uma nova eleição,no final de junho, para a escolha de novos parlamentares. Conseguirreunir uma maioria num processo de fragmentaçãopartidária – são mais de dez partidos – é odesafio do novo presidente, José Ramos Horta, que toma possehoje (20).Ele não tem partido e buscaráinfluenciar na escolha do primeiro-ministro. “Acredito que dápara construir uma maioria, que terá de acontecer para sepoder governar. Acredito também num certo grau deestabilidade. É um processo longo, mas tende a se normalizar”,finalizou.