Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ao contrário do que aconteceu nas três visitas papais anteriores, em 1980, 1991 e 1997, os índios brasileiros não serão recebidos por Bento XVI durante sua estadia no país, esta semana. De acordo com ovice-presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi),Saulo Feitosa, a entidade recebeu diversas cartas de comunidadesindígenas pedindo um encontro com o papa, mas a resposta da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foique a agenda de Bento XVI já estava cheia.“Os índiosestão estranhando, porque, sempre que o papa João PauloII vinha ao Brasil, tinha uma agenda com os índios. Como dessavez o Papa Bento XVI não sinalizou para essa possibilidade,vários índios mandaram cartas pedindo um encontro. Masa resposta que nós tivemos é que isso não vaiser possível”, explicou Feitosa.
Ele lembra que as reivindicações dospovos indígenas devem ser debatidas durante a 5ª ConferênciadoEpiscopado Latino-Americano e do Caribe, em Aparecida. Isso porque umdos participantes do encontro será o monsenhor FelipeArizmendi, que é presidente da Pastoral Indígena doConselho Episcopal Latino-Americano (Celam). “Aquestão indígena vai estar sendo tratada no evento,embora não haja um encontro dos índios com o papa”,afirma.
Além disso, Feitosa destaca que as entidades vinculadas à CNBB, como o Cimi e as pastorais, participaram da elaboração de umdocumento que será trabalhado durante a 5ª conferência. “Nossaspropostas e perspectivas no campo pastoral aparecem nesse documento”,diz.
Feitosa avalia que a relação da Igreja Católicacom os índios, que durante muito tempo foi apenas decatequização, está se tornando mais democrática.Ele lembra que, a partir dos anos 70, houve uma mudança radicalna concepção da igreja sobre o trabalho deevangelização junto aos povos indígenas eavalia que a perspectiva hoje não é mais a de catequizaros povos indígenas, mas sim de estabelecer um diálogointer-religioso. “A igreja reconhece que os índios têmsuas religiões, suas teologias próprias”, diz.
Para o vice-presidente do Cimi, a existência de movimentospopulares dentro da Igreja Católica não é motivode conflitos. Ele afirma que há liberdade de posicionamento eque a igreja congrega vários movimentos, váriaspastorais com orientações mais variadas possíveis.“Em nosso caso, nunca tivemos dificuldades dentro da igreja que nosinviabilizasse a atuação. Temos debates, temos bisposque não concordam com a linha de atuaçãopastoral do Cimi, que questionam alguns posicionamentos, mas nenhumaação que se tornasse impeditiva, que nos proibisse dedesenvolver nosso trabalho pastoral”, explica Feitosa.
Ele afirma aindaque o Cimi consegue manter uma boa relação com apresidência da CNBB. “Os debates surgem, mas as diferençassão encaradas com muita maturidade e tranqüilidade dentro dasinstancias eclesiais”, conclui.