Edla Lula
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Banco Central jácomprou, neste ano, volume de dólares superior aos US$ 34bilhões adquiridos em todo o ano de 2006. Só nasemana passada, a aquisição da moeda americana ultrapassou osUS$ 5 bilhões, somando-se aos US$ 33 bilhões adquiridosaté abril. Se, de um lado, o BCafirma que a compra faz parte de uma política jáanunciada de composição de reservas, de outro,analistas vêem a atuação da instituiçãocomo uma clara tentativa de intervir no dólar, baseados nareação do BC a cada vez que o câmbio ameaçase reduzir para abaixo dos R$ 2. Isso aconteceu naquinta-feira, quando o dólar chegou a valer R$ 2,008, e o BCacabou comprando, num só dia, quase US$ 4 bilhões emoperações nos mercados futuro e à vista.Para alguns analistas,no entanto, a estratégia do BC é vã, porque,mesmo com as intervenções, o valor do dólar nãoretoma o ritmo de crescimento. "Por maior volume que o BancoCentral compre, a taxa não se move muito", comenta oeconomista chefe do Instituto de Estudos para o DesenvolvimentoIndustrial (IEDI), Edgar Pereira. A instituição -mantida por empresários industriais brasileiros com o objetivode pensar políticas para o desenvolvimento nacional -divulgou, esta semana, um estudo no qual defende uma políticamais agressiva para evitar a sobrevalorização do real.Mas até o setortem a sua parcela de participação nessa valorização.Como as empresas exportadoras saem perdendo na hora de fazer aconversão para o real nas operações de comércioexterior, elas antecipam a conversão, quando poderiam manterlá fora, por um tempo maior, parte dos dólaresreferentes às exportações.Os importadores, porsua vez, adiam o pagamento de suas compras, receosos de que, casopaguem antecipadamente, percam mais adiante com uma desvalorizaçãoainda maior do dólar. Com isso, mais dólares ficam noBrasil, forçando a redução do valor da moeda. "Setodo mundo está apostando que o dólar vai cair, e ovolume cresce, o dólar cai mesmo, e a capacidade do BancoCentral de evitar isso só comprando dólar émínima", avalia Pereira.Para ele, a saídaseria uma aceleração no ritmo de reduçãona taxa de juros. As elevadas taxas, juntamente com o crescimento dasexportações, contribuem para o fortalecimento do real.Taxas de juros altas atraem investidores interessados apenas na altarentabilidade dos títulos brasileiros.Na opinião dePereira, a própria postura do BC em relação àcompra dos dólares, mais agressiva, realizando as operaçõessem um aviso prévio, demonstra que a autoridade monetáriabriga para manter o dólar acima dos R$ 2. Como há umapercepção de que essa estratégia sozinha nãoresolve, Pereira, como vários outros analistas de mercado,acredita que a próxima opção é a reduçãodos juros maior que o 0,25 ponto percentual que vem sendo praticadopelo Comitê de Política Monetária (Copom).Outra sinalizaçãoele lê na ata da ultima reunião do comitê,realizada nos dias 17 e 18 de abril, quando a Selic caiu de 12,75% aoano para 12,5% ao ano. Em primeiro lugar, Pereira coloca o fato de,já naquela reunião, três dos sete diretores teremvotado por uma redução em meio ponto percentual. "Alémdisso, na ata está explicito que todos os membros concordamque não há uma ameaça de inflaçãono país. A única justificativa apresentada para aredução mais lenta é a parcimônia", diz. Esse argumento da cautela, para ele, não se sustentarána próxima reunião, marcada para os dias 5 e 6 dejunho.