Documentário busca poesia nordestina a partir de cruzes fincadas à beira de estradas

05/05/2007 - 15h39

Adriana Nogueira
Da Agência Brasil
Brasília - A curiosidade infantil de saber o significado das cruzes fincadas à beira das estradas nordestinas torna-se roteiro do documentário Uma Cruz, uma História e uma Estrada, do pernambucano Wilson Freire. O filme registra histórias de vida e morte a partir de vítimas de acidentes das rodovias que cruzam a Zona da Mata, o Agreste e os sertões do Moxotó, Pajeú e Cariri. O vídeo será exibido neste domingo (6), a partir das 23 horas, pela rede pública de TV.Há dois anos, Freire leu o livro Anubis e Outros Ensaios, de Câmara Cascudo, que conta a origem ibérica dessa tradição de homenagear pessoas que morriam à beira do caminho. A publicação embalou a idéia de um novo trabalho que mostrasse um lado mais humano, religioso e principalmente poético do nordestino, já que toda a narrativa do documentário é feita por cancioneiros e trovadores.Freire explica que a idéia de produzir o filme, iniciou-se em 2006 quando seu colega fotógrafo, João Veiga Filho, mostrou-lhe fotos de cruzes do ensaio que realizava. "Aí não tive dúvidas, montei uma equipe e percorri 5 mil quilômetros. Sofremos com o calor do dia e com o frio da madrugada, mas no final, fiquei feliz com o resultado". A forma sensível como o diretor trata a morte, é algo que se impõe durante os 51 minutos de duração documentário. Acidentes nos acostamentos de estradas, normalmente, não tem muita diferença, mas, ao optar por cantar as histórias das vítimas e das famílias, aparece em cada ladainha uma particularidade, que nos prende as trovas. "A morte, independente da maneira como é tratada, ela atrai a atenção das pessoas. Mas para não ficar várias histórias contadas repetidamente, afinal a maioria das vítimas morreu atropeladas, resolvi enriquecer o documentário com a participação dos poetas sertanejos, que cantassem essas histórias", relata o diretor. O diretor e roterista Wilson Freire comenta a possibilidade de exibir o documentário na rede de TVs públicas. "Infelizmente a TV aberta não esta 'aberta' para esse tipo de trabalho", critica. Freire espera poder alcançar um grande público com a exibição e aposta que se abram as mentes da sociedade para lidar com a dor alheia: "Que percebam o tamanho do Brasil e a riqueza cultural que aqui existe e consiste".