Gláucia Gomes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Uma comissão composta pordeputados federais e estaduais acompanha em VeraCruz, município gaúcho na região do Vale do RioPardo, as investigações da políciae da Justiça sobre o suicídio da agricultora Eva daSilva, de 61 anos. Eva suicidou-se após ter tido toda a suaprodução de fumo tomada, na Justiça, pela empresaAlliance One Brasil Exportadora de Tabacos Ltda., segundo o Movimento dosPequenos Agricultores.A comissão vai ouvir aPolícia Civil e representantes da Justiça local. Oadvogado e coordenador da organização de direitoshumanos Terra de Direitos, Darci Frigo, convidado pela comissãopara assessorar os deputados, disse que as empresastransnacionais exercem pressão sobre os agricultores nacobrança de dívidas que, muitas vezes, nem estãovencidas. Segundo ele, esse é o caso da agricultora Eva daSilva.Segundo Darci, os deputados participaram de audiência pública na Câmara Municipal de Vera Cruze ouviram “graves denúncias” sobre endividamento, tomadade terras, confissão e execuções ilegais dedívidas.Ele acrescentou que além dos familiaresde Eva da Silva, vários agricultores foram ouvidos e unânimes em afirmar que eles são obrigados a assinarcontratos e notas promissórias em branco.“Nóstemos uma situação muito grave, centenas e centenas deagricultores estão na mesma condição, sofrempressão psicológica por parte das empresas. Osagricultores usaram a palavra terrorismo das empresas, dosinstrutores, que vão nas suas casas e ameaçam”disse.O advogado explicou que, em um sistema de integração, as empresas oferecem ao agricultor a possibilidade de plantar o fumo. Entretanto, para que oagricultor possa retirar os insumos (adubos químicos,sementes, agrotóxicos, assistência técnica eequipamentos) é preciso assinar um contrato que o obriga aentregar a produção para a empresa, retirando osinsumos pelo preço determinado por ela. Junto com essedocumento, o agricultor é obrigado a assinar notaspromissórias em branco e a empresa coloca data e valor,executando o agricultor quando quer.“No caso da dona Eva, ocontrato vencia dia 31 de julho e eles executaram dia 31 de janeiro,seis meses antes. O sistema de integração é umsistema perverso, é uma máquina de violar os direitoshumanos”.Segundo o advogado, os deputados estãoconvictos de que a diligência terá papel muito maiordo que apenas um relatório à Comissão deDireitos Humanos da Câmara dos Deputados. “É precisoampliar o foco em torno das violações aos direitosdesses camponeses na região. Os deputados devem retomar ostrabalhos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná paradepois propor medidas mais profundas para enfrentar o problema”disse Frigo.