Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em usinas térmicas não acarretarão mudanças relevantes no quadro das fontes de energia no Brasil, a chamada matriz energética. Segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, a maior parte da energia produzida no país continuará a vir de fontes limpas, como usinas hidrelétricas.Apesar de os projetos do PAC para as usinas térmicas darem privilégio a combustíveis poluentes, como o óleo combustível, o diesel e o carvão mineral, Tolmasquim assegura que esses empreendimentos terão impacto mínimo sobre a matriz energética brasileira. "A participação das térmicas no total de produção de energia ficará praticamente inalterada nos próximos anos", garante o presidente da EPE, órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia encarregado de planejar a produção de energia.O Plano Decenal de Energia Elétrica, que estabelece os investimentos do governo federal na área nos próximos dez anos, prevê que as usinas hidrelétricas serão responsáveis por 73% da produção de energia em 2015, mesma proporção detectada em janeiro de 2006, quando o plano foi lançado. De acordo com o documento, o gás natural continuaria com 9% da matriz energética e o carvão, o óleo combustível e o diesel, somados, permaneceriam com 5%.Embora as projeções do governo não apontem alterações na matriz energética a longo prazo, Tolmasquim admite que, nos últimos anos, tem se notado um pequeno aumento na participação das usinas térmicas. Ele, no entanto, diz que esse efeito é temporário e decorre da falta de planejamento dos investimentos durante os anos 90."Como uma hidrelétrica leva pelo menos quatro anos para sair do papel, e o país precisa de energia para crescer, o jeito é recorrer às usinas térmicas, que são instaladas em menos tempo", justifica Tolmasquim. Segundo ele, nos próximos anos, a construção de usinas hidrelétricas voltará a ser intensificada. "Estamos concluindo os estudos das bacias dos rios para orientar a expansão do potencial hidráulico do país", acrescenta.Enquanto isso não ocorre, as termelétricas parecem ganhar terreno na matriz energética. No leilão de energia nova para 2010, que ocorrerá em junho, 69,2% da potência elétrica dos 177 empreendimentos inscritos correspondem a usinas movidas a combustíveis fósseis. As hidrelétricas só representam 16,2%. Pelos dados mais recentes da EPE, os investimentos que vão concorrer ao leilão somam 20.096 megawatts.Além de terem custo de funcionamento mais elevado que as hidrelétricas, as usinas térmicas podem ser influenciadas por fatores de mercado, como a alta nos preços do petróleo. As negociações com a Bolívia em torno do gás natural também podem trazer surpresas para os consumidores.Em fevereiro, o aumento de US$ 1,19 para US$ 4,20 por BTU (unidade térmica usada para medir a quantidade de gás natural) da Usina Termocuiabá, em Mato Grosso, negociado com o governo boliviano, resultou num aumento de 0,2% nas contas elétricas de 95% dos consumidores brasileiros. Isso ocorreu porque a termelétrica fornece toda a produção para a estatal Furnas Centrais Elétricas, que repassa a energia às companhias distribuidoras.Mesmo com a predominância das termelétricas no leilão de junho, Tolmasquim não acredita em futuros aumentos nas tarifas. "A princípio, nossos estudos não indicam impacto nenhum para os consumidores", minimiza o presidente da EPE. "Se houver algum reajuste, ele será desprezível."