Governo e especialistas divergem quanto a "sobra" de energia no país e riscos de novo apagão

17/04/2007 - 7h20

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Vinculada ao Ministério de Minas e Energia e encarregada de planejar a política energética do país, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) assegura que o excedente de energia existente hoje no país será suficiente para suprir a demanda nos próximos anos. Segundo o presidente da estatal, Maurício Tolmasquim, a capacidade energética do país tem condições de suportar crescimento do PIB de até 4,5% ao ano. "Com os leilões previstos para junho, o Brasil poderá sustentar um crescimento econômico ainda maior", acrescenta.Atualmente, segundo o Ministério de Minas e Energia, a capacidade de geração do Brasil é de 98.121 megawatts, enquanto o consumo recorde registrado foi de 62.975 megawatts. Para o governo, o cenário é otimista e não há o menor risco de desabastecimento a médio prazo. Especialistas, no entanto, discordam de que a sobreoferta de 28 mil megawatts represente sinal de conforto para o setor elétrico.O coordenador do Programa de Planejamento Energético da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, não acredita que as sobras de energia sejam suficientes para suprir um eventual aumento da demanda acima do previsto. "O raciocínio do governo, que subtraiu o consumo da potência gerada, está equivocado", rebate o especialista.Para Pinguelli, o fato de o país ter 98 mil megawatts de potência elétrica instalada não significa que toda essa quantidade seja gerada. "Vários empreendimentos instalados trabalham abaixo da capacidade ou nem sequer começaram a operar", ressalta.Pinguelli diz ainda que o governo não deve se basear na sobreoferta atual de energia para fazer projeções sobre o atendimento da demanda nos próximos anos. "Na verdade, o que importa não são as condições atuais, mas como a geração vai se comportar em relação a demanda daqui a dois anos", pondera. "Neste ano pode até ter havido excedente, mas porque choveu bastante no Sudeste durante o verão. Caso contrário, poderíamos ter tido um novo apagão em 2007", adverte.O presidente do Instituto Acende Brasil, entidade mantida pela Câmara Brasileira dos Investidores em Energia Elétrica, Cláudio Sales, também  acredita que a sobra de energia não representa segurança no abastecimento de energia nos próximos anos. Na última quinta-feira (12), o Instituto Acende Brasil apresentou estudo em que adverte para o risco de apagão a partir de 2010. “Nossas projeções consideraram crescimento de 4% ao ano da economia, menos do que as estimativas de 4,5% divulgadas pelo governo no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]”, ressalta.Pelo relatório do Instituto Acende Brasil, as chuvas no início deste ano afastaram o risco de racionamento na região Sudeste, maior consumidora de energia do país, até o final de 2008. Caso a economia cresça 4%, em 2009, esse indicador aumentaria para 5%, valor considerado limite máximo recomendado pelo governo federal. A partir de 2010, no entanto, esse risco subiria para 8% e dispararia para 14% em 2011.Caso a economia se expanda mais que o previsto, os efeitos, segundo o estudo do Instituto Acende Brasil, podem ser ainda mais graves. No cenário de crescimento de 5% ao ano do PIB, o risco de racionamento seria de 12,5% em 2010 e chegaria a 22,5% em 2011. “A princípio, esses números não significam necessariamente que haverá racionamento, mas, sem dúvida, esse é um risco altíssimo”, diz Sales. “Na melhor das hipóteses, o país vai ficar cada vez mais dependente das chuvas para evitar um apagão.”