Vitor Abdala e Luiza Bandeira
Repórteres da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, Silvia Ramos, teme que as prisões promovidas pela Polícia Federal na Operação Furacão não enfraqueçam o jogo do bicho no Rio de Janeiro.A cientista social lembra que a grande operação de 1993, que resultou na condenação de 14 contraventores, não acabou com os jogos de azar na cidade. “O jogo do bicho tem mostrado, há muitas e muitas décadas, uma capacidade impressionante de se rearticular e se reerguer depois de momentos de tombos como esse que estamos vendo agora", explica a pesquisadora."Naquela época [em 1993], praticamente todos os bicheiros importantes foram para a cadeia. O que se verificou, poucos anos depois, é que, não são o esquema não estava desarticulado, como estava infinitamente mais fortalecido.” O jogo do bicho surgiu no Rio de Janeiro no final do século 19, segundo informações do Museu da República, quando João Batista Viana Drumond, o Barão de Drumond, criou uma estratégia para atrair visitantes para o zoológico da cidade.A idéia era distribuir bilhetes com figuras de animais e dar prêmios, em dinheiro, para as pessoas que tivessem os cartões com os bichos sorteados ao final de cada tarde. O chamado “jogos dos bichos” foi tolerado durante o governo do Marechal Floriano Peixoto, mas, posteriormente acabou sendo reprimido pelas autoridades, de acordo com o Museu da República. A longa história do jogo do bicho, no entanto, não deve ser encarada de uma forma romântica, segundo Silvia Ramos.“O jogo do bicho, desde sempre, foi responsável pela corrupção policial nas delegacias. Essa era uma relação tradicional no Rio de Janeiro. Ela pode ter tido maior ou menor intensidade nas últimas décadas, mas a idéia era que, semanalmente, as bancas de bicho pagavam para equipes inteiras de delegacias.” O jogo do bicho, tradicional, é um sorteio em que as pessoas escolhem números (relacionados a animais) e apostam neles, através de bancas localizadas por toda a cidade. Mas, com o passar dos tempos, acredita-se que novas modalidades de jogos de azar foram sendo incorporadas pelas quadrilhas que dominam o jogo do bicho, como a exploração das máquinas caça-níqueis e as casas de bingo. De acordo com o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, existem no Brasil pelo menos cinco tipos de jogos de azar, além do bicho: loterias federais (únicas com amparo legal, de acordo com a CPI) e estaduais, bingos, cassinos, bingos virtuais e máquinas de jogos eletrônicos (caça-níqueis).O relatório aponta que, desde a década de 90, já foram detectados “pedágios” impostos por contraventores do jogo a donos de casas de bingo, para que elas funcionassem na área “dominada” por eles. Em alguns casos, os próprios contraventores são proprietários dessas casas. Segundo a CPI, os contraventores exploram ainda a chamada “banda B” dos jogos de azar, que são as máquinas de caça-níqueis localizadas em bares, padarias e outros estabelecimentos, “utilizadas por pessoas de menor poder aquisitivo”.