Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) divulgou hoje (10) um balanço das ações que desenvolve desde o início da semana em seis estados brasileiros como forma de chamar a atenção para a reforma agrária e de lembrar os 11 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1996. Na ocasião, 19 trabalhadores rurais foram assassinados por policiais militares do Pará.Desde domingo (8), cerca de 170 famílias do movimento estão acampadas em uma fazenda do grupo Suzano Papel e Celulose, na cidade paulista de Itapetininga (SP). Segundo o coordenador regional do MST, Joaquim da Silva, a área é "abandonada" e representa a "miséria" que vem sendo gerada na região pela expansão da monocultura de cana-de-açúcar e de eucalipto.“Estamos denunciando, porque só este latifúndio tem mais de 50 mil hectares de eucalipto”, disse, em entrevista nesta terça-feira (10) à Agência Brasil. "Na região Sudoeste, que pega desde Sorocaba até Itapeva, 60% é tudo plantação de eucalipto, e o restante é cana-de-açúcar. A maior parte dos bóias-frias está ficando desempregada porque até as colheitas dessas monoculturas, tanto da cana quanto do eucalipto, são mecanizadas”.Para Silva, um dos principais problemas da monocultura é que ela gera miséria. “Uma monocultura, principalmente de eucalipto ou de cana, não traz alimento para a nossa população”. Ele cita outros problemas, como ambientais, já que as duas culturas fazem uso de agrotóxicos - "que estragam a terra, acabam com o meio ambiente” - e de desemprego, pois tanto a cana quanto o eucalipto "empregam a mecanização da colheita em larga escala". De acordo com ele, os sem-terra acampados na fazenda reivindicam a desapropriação de cinco fazendas (quatro delas em Itapetininga e outra em Sorocaba) para a reforma agrária. Silva disse que os processos de duas dessas fazendas, cujos decretos para a reforma agrária já foram assinados, estão parados na Justiça.Em comunicado enviado à imprensa, a Suzano Papel e Celulose diz que a fazenda ocupada é produtiva e que o grupo “já tomou as providências cabíveis no sentido de restabelecer, o mais rápido possível, o seu direito legítimo de propriedade de posse daquela fazenda produtora de eucalipto”.Os protestos do MST ocorreram em outros cinco estados. Em Nova Santa Rita (RS), cerca de 300 assentadosn ocuparam nesta manhã a secretaria de Obras do município para cobrar melhorias na infra-estrutura dos assentamentos da região.Em Presidente Vargas (MA), 300 famílias ocupam, desde ontem (9), a fazenda Salgador, de 45 mil hectares. Segundo o movimento, a ocupação é para reivindicar que a área, considerada improdutiva pelos sem-terra, seja vistoriada imediatamente pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).Na Bahia, 5 mil sem-terra iniciaram ontem, em Feira de Santana, uma marcha de 110 quilômetros em direção a Salvador. A expectativa é chegar na capital do estado na próxima segunda-feira (16).Em Pernambuco, 400 famílias de sem-terra ocuparam duas fazendas, nas cidades de Bonito e Jataúba.No Piauí, diversos movimentos, junto com o MST, ocuparam ontem a sede do governo do estado, o Palácio de Karnak, para pedir audiência com o governador e reivindicar prioridade para as políticas rurais.