Debater sobre aborto já é avanço, avalia feminista

09/04/2007 - 22h34

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - É um avanço para o Brasil reconhecer a necessidade de discutir com a população a legalização do aborto, como forma de reduzir o número de mulheres que morrem em clínicas clandestinas, avalia a socióloga Dulcelina Xavier, da organização feminista Católicas pelo Direito de Decidir. Por isso, ela considera importante a declaração do ministro da Saúde, José Carlos Temporão, sobre a necessidade de discutir o assunto.Mais que desmistificar o tema, Dulcelina Xavier afirma que o debate deve incluir os motivos que levam as mulheres a interromper uma gravidez. “É mais do que simplesmente não querer ter um filho. A decisão envolve uma séria de questões como o sub-emprego, os baixos salários, a inacessibilidade à políticas de planejamento familiar e a rejeição pela família ou pelo companheiro".As mulheres recorrem ao aborto, segundo a socióloga, como opção diante de uma situação difícil. A interrupção da gravidez passa a ser uma saída e não um problema, apesar das cobranças culturais. “É claro que se defende a prevenção e não o aborto como prática anticoncepcional. O fundamental é o acesso à educação e ao planejamento familiar, com a distribuição de camisinhas e anticoncepcionais, além da realização de processo cirúrgicos mais complexos, para os quais nem sempre existe recursos no sistema público e acabam indisponíveis para população”. Entres os procedimentos mais caros, Xavier cita a implantação do DIU e laqueadura de trompas.De acordo como o Ministério da Saúde, o aborto é a 4ª causa de óbito materno no país e a curetagem (coleta de restos de tecidos do útero) é segundo procedimento obstétrico mais praticado nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), superado apenas pelos partos. Além disso, em 2004, cerca de 244 mil mulheres foram atendidas para fazer curetagem ou tratar infecções pós-aborto.Defender o aborto, segundo Xavier, é compreender que as mulheres também têm direito à vida. “Mas estão morrendo por conta de abortos feitos clandestinamente”.Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), metade das gestações são indesejadas e uma em cada nove mulheres recorre ao abortamento. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, 31% das gestações terminam dessa maneira. São cerca de 1,44 milhão de abortamentos espontâneos ou provocados.O código penal brasileiro só permite a realização de abortos em casos que envolvem risco de vida para a mãe ou sejam gestações resultantes de estupro.Católicos, evangélicos e espíritas fizeram uma manifestação hoje (09) contra a legalização do aborto em frente a um ginásio onde estava o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, em Fortaleza (CE). Eles criticaram as declarações do ministro. Parlamentares também já haviam criticado Temporão.