Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O papelda sociedade civil é de extrema importância paracombater a violência em áreas de desmatamento, naavaliação do membro da CoordenaçãoNacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), JoséBatista Afonso. Levantamento realizado pela Agência Brasil mostrou coincidência entre as listas dos municípios com maior número de assassinatos no país e aqueles com os maiores índices de desmatamento.Ele cita o exemplo do município de RioMaria, que na década de 80 era conhecido da região doSul do Pará como um dos mais violentos do Brasil. SegundoAfonso, a sociedade foi se organizando e denunciando situaçõesde violação dos direitos humanos nas áreasurbana e rural e, com o passar do tempo, esse enfrentamento fez com quea violência diminuísse bastante. “Não foi sópela presença do Estado, mas principalmente pela cobrançada sociedade e pela presença organizada dos movimentossociais."
Afonso lembra que a ação do governo também éimportante, especialmente na promoção de políticaspúblicas para a reforma agrária, segurançapública, geração de emprego e renda que atendamà população mais pobre, que está maisvulnerável a todas as formas de violência.
O ativista alerta que os governantes devem estar atentos paraevitar o êxodo da população mais pobre rumo a essas regiões, em busca de falsas promessas de trabalho em grandes projetos, como os de mineradoras ou do agronegócio. “É preciso que ogoverno esteja atento para não ser um incentivador dessamobilidade social que acaba criando problemas sociais graves queresultam em muitas formas de violência”, afirma.
Aoanalisar as causas da violência nas regiões dedesmatamento, José Batista Afonso lembra que, nas regiõesonde há maior violência, de acordo com o Mapa daViolência, são os lugares onde também onde seconcentram o maior número de casos de trabalho escravo, segundo dadosmonitorados pela Comissão Pastoral da Terra. “Há todo um componente favorável a essa situaçãode violência, poque você tem a presença forte degrandes empreendimentos ligados ao agronegócio, principalmenteà pecuária e à soja e depois a presençatambém muito forte das grandes madeireiras e do processoviolento da grilagem de terras públicas”, diz ele.
Afonso alerta ainda para a questão do crime organizado nocampo, por meio da ação de pistoleiros que tambématuam nas cidades. Segundo ele, dados da Comissão Pastoral daTerra apontam que quase a totalidade dos crimes da área ruralsão praticados pela ação de pistoleiros. “Ouseja, existe sempre um mandante, um intermediário que contratae grupos de pistoleiros que estão por trás dessescrimes.”
SegundoAfonso, essa não é uma situação presenteapenas na área rural. Ele explica que, nas regiões deexpansão da fronteira, quem controla as terras geralmentecontrola também os grandes empreendimentos na áreaurbana. “Esses grupos acabam sendo vinculados a umasituação de violência na área rural, maseles estão também na violência praticada na zonaurbana”, conclui. A CPT é ligada à Igreja Católica e, entre outras ações, organizalevantamentos periódicos sobre a violência contra trabalhadores ruraisno Brasil. A entidade também tem atuação nas regiões de recrutamento eutilização de trabalho escravo, buscando denunciar e combater essaforma de exploração.