Juliana Andrade e Manoela Alcântara
Da Radiobrás
Brasília - No Brasil, ainda existem milhões de jovens que nãotrabalham nem estudam. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra deDomicílios (Pnad) de 2005, apontam que um a cada oito brasileiros de 15a 18 anos não freqüenta escola nem tem emprego. Se for considerada apopulação de 18 a 25 anos, um a cada quatro está nessa situação.A pesquisadora do Instituto de Estudosdo Trabalho e Sociedade (Iets) Sônia Rocha lembra que a baixa escolaridade dificulta nahora de conseguir o primeiro emprego. "Com menos de oito anos deescolaridade, vamos dizer que hoje esse contingente de jovens não temnenhuma chance de uma inserção adequada no mercado de trabalho", diz ela. Para a pesquisadora, a falta de interesse pela escolaé o principal fator que leva os jovens a abandonar os estudos. "Veja adificuldade de conceber uma escola que seja útil e atrativa, porque naverdade o sistema escolar os excluiu por atraso, por repetência, pordesinteresse e por inadequação. É uma escola que não qualifica e elesnão percebem a utilidade da escola para se inserir no mercado detrabalho."Na opinião do diretor-executivo da organização Todospela Educação, Mozart Neves Ramos, as escolas públicas de ensino médioprecisam oferecer cursos profissionalizantes, para que os jovens tenhammais chances de conseguir um emprego ao concluir os estudos. "O jovem de hoje precisa, em primeiro lugar, de uma formaçãoeducacional mais ampla e atraente, interdisciplinar, e ao mesmo tempoque incorpore valores nesses três anos do ensino médio que permitam queele possa, ao deixar o ensino médio, não somente seguir a alternativado ensino superior mas também com chances efetivas de ingressar nomercado do trabalho."O diretor lembra ainda que o fato de o jovem nãotrabalhar e não estudar o coloca numa situação ainda mais difícil. "Aoentrar na ociosidade, ele começa a ir para o mundo do crime, para omeio da rua, para fazer exatamente um novo ciclo de amizade que agoranão tem mais nada a ver com a escola nem com o mundo do trabalho eportanto entra na violência", diz Ramos, que é ex-secretário de Educação dePernambuco. Mozart Ramos lembra que há estudos mostrando a relação entre juventude e violência. "Não é à toa que,por exemplo, um estudo da Unesco mostra isso, que jovens de 17 a 24anos representam a grande fração de mortalidade hoje, não só aqui emPernambuco, mas em muitos estados do Brasil. São eles as grandes vítimas,e essas mortes decorrem muito mais do problema ligado ao tráfico,ligado a violência em si".O Plano de Desenvolvimento da Educação, que o governofederal deve anunciar este mês, prevê ações para aproximar o ensinomédio dos jovens. Uma das propostas é criar o Instituto Federal deEducação Profissional, Científica e Tecnológica, com unidades em todasas cidades-pólo do país. A idéia é oferecer ensino médio e educação dejovens e adultos junto com a educação profissional, além de cursos degraduação e pós-graduação e treinamento de professores.As pesquisas que o governo está usando para planejarsuas ações indicam que a falta de escolaridade está diretamente ligadaà falta de condições financeiras. Por isso, também está em estudo acriação de uma bolsa para estimular os jovens com até 17 anos, defamílias com baixa renda e que estão fora da escola, a voltar a estudar.