Para autor do Mapa da Violência, índices de assassinato na região do desmatamento refletem ausência do Estado

07/04/2007 - 11h26

Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - De acordo com oautor do Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros,Julio Jacobo, a ausência do poder públicoe apropriação ilegal de terras são as principaiscausas da violência na região de desmatamento daAmazônia brasileira. Jacobo afirma que existe, sim, uma coincidênciaentre o arco do desflorestamento da Amazônia e o Mapa daViolência, conforme mostra levantamento da Agência Brasil. “Dos 10 municípios mais violentos do Mapada Violência, cinco ficam na região do Arco doDesflorestamento. Isso já é um bom indicador”, avaliao pesquisador.

Opesquisador explica que, ao fazer o estudo, a intençãonão era diagnosticar a situação de cadamunicípio do país, mas apenas medir a violêncianas cidades. Entretanto, segundo ele, a partir da divulgaçãodos dados, foram feitas diversas análises que apontam trêsprincipais focos da violência no Brasil. O primeiro, nascapitais e regiões metropolitanas está ligado àexclusão social, que afeta principalmente a juventude do país.

Os outros dois focos, situados no interior dos estados, têm aver com a interiorização do desenvolvimento e com aausência do Estado. Segundo ele, em alguns municípios,houve um crescimento econômico violento a partir da décadade 90, quando as indústrias começaram a se deslocar dacapital para o interior. Já nas cidades onde o desenvolvimentoeconômico não é um fator predominante, a falta deação do poder público permite a atuaçãode grupos econômicos ligados especialmente à grilagem deterras e ao desflorestamento. Ele também alerta que, junto como desflorestamento, ocorre o trabalho escravo, com desrespeitoabsoluto às normas trabalhistas de segurança.

Entre as saídas para resolver o problema, segundo Jacobo, está aatuação dos municípios e da sociedade civil. “Omunicípio tem que assumir que tem violência. Nãohá cura se não há a consciência daenfermidade. Isso não significa automaticamente chegar àcura, mas é uma condição indispensável”, afirma. Ele também acredita que a sociedade deve agirdemandando a presença do poder público e denunciando apresença ilegal de madeireiras.

“Obviamente que há, nos próprios municípios,setores cuja expansão econômica depende desses atos eque não estão muito interessados em acabar com isso.Mas a população não se beneficia em nada. Aocontrário, é prejudicada pela violência imperante.Então, ela deve se juntar, denunciar, solicitar a presençado poder público, da força de segurança, doIbama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], para reprimir esse tipo de atividade”, conclui Jacobo.

Ementrevista à Agência Brasil no dia 6 de março,o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, contestou os dados do Mapada Violência, afirmando que a metodologia utilizada na pesquisanão é correta. “Eles (OEI) partiram de bases irreaispara fazer a pesquisa, e ela infelizmente não está nosajudando em nada para tomar nenhuma providência. Na minhaavaliação, a pesquisa só denegriu a imagem doMato Grosso e do país”, afirmou o governador.