Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A falta de capacitação é um dos principais problemas enfrentados pela dona-de-casa Hosana Pereira do Nascimento, 27 anos, que há quase um ano concilia os afazeres domésticos com o trabalho como conselheira tutelar no município de Bujari (AC), localizado a 30 quilômetros de Rio Branco. A funcionária do conselho tutelar conta que nem ela nem os outros quatro conselheiros empossados em março de 2006 participaram de cursos para atender as crianças e adolescentes que têm seus direitos ameaçados ou violados.No dia-a-dia, uma das dificuldades de Nascimento é entender o funcionamento do Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (Sipia), um sistema nacional informatizado de registro e tratamento de informação criado para subsidiar a adoção de decisões governamentais sobre políticas para crianças e adolescentes.“A gente não teve capacitação para trabalhar com o Sipia, esse sistema requer um pouco do conselheiro, porque tem que saber algumas instruções para acessar o sistema. A gente já fez vários pedidos de capacitação, mas até o momento só recebemos promessa. Isso tem prejudicado muito o nosso trabalho, porque a gente tem que estar bem informado para atender as pessoas e sem a capacitação, alguém para dar essas instruções para a gente, fica difícil”, reclama.As dificuldades no conselho tutelar de Bujari não se resumem à falta de capacitação, mas também passam pela falta de estrutura, de acordo com Hosana Nascimento. Ela diz que só há um computador ligado à internet para os conselheiros acessarem o Sipia. O telefone apenas recebe ligações e os funcionários freqüentemente se vêem obrigados a usar o celular particular, assim como o carro.“Para fazer as notificações, a gente tem que sair a pé ou usar carro particular para levar a coisa pra frente porque se for aguardar o poder público, fica difícil”. Ela afirma ainda que grande parte das denúncias de violações dos direitos de crianças que vêm da zona rural deixa de ser atendida pela dificuldade de acesso a essas localidades. “A gente sabe que 100% a gente nunca vai ter, mas pelo menos as condições básicas de trabalho, um telefone, um meio de transporte pelo menos para um dia na semana, que a gente agendava os casos”.A falta de condições para o trabalho acaba prejudicando a própria imagem que a população tem do conselho tutelar, na avaliação de Hosana Nascimento. “As pessoas pensam ‘eu denunciei no conselho, mas nenhuma providência foi tomada, então o conselho não serve para nada’. A idéia que passa para as pessoas é essa, porque ninguém vai querer saber se você tem condições de trabalhar ou não, quer ver se o trabalho é feito”, diz ela, que recebe da prefeitura municipal dois salários mínimos por mês para exercer a função.Outra preocupação da conselheira é a forma como o órgão é visto pelas próprias autoridades. “Eu lamento porque muitas autoridades não vêem o conselho tutelar como órgão que veio para ajudar, elas vêm o Estatuto da Criança e do Adolescente como uma coisa que veio para dar apoio para quem não presta, para bandido e a gente quer desfazer essa imagem”.