Para familiares de vítimas, questão do idioma não foi causa do acidente da Gol

20/02/2007 - 9h45

Marcela Rebelo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O fato de os controladores de vôo não dominarem alíngua inglesa não foi a questão fundamental para aqueda do Boeing da Gol, em setembro do ano passado, na avaliação deLuciana Siqueira, da Associação das Famílias das Vítimas do Acidente."Pode ser uma falha, mas não foi a causa do acidente", afirmou Lucianahoje (20), em entrevista à Agência Brasil. O acidente resultou na morte de 154 pessoas. Segundo ela, a transcrição do diálogo da caixa de voz do jato Legacymostra que os pilotos americanos Jan Paladino e Joseph Leporeestavam despreparados. "A íntegra da caixa de voz do Legacy mostra queeles estavam procurando o manual", disse Luciana. "Eles falavam:'O que é isso?', 'O que é essa lei internacional?', 'Eu não estouentendendo nada disso.' Além disso, o transponder estava desligado e, em minutos, tudo aconteceu", completou.A Associação das Famílias teve acesso a uma parte da transcrição dodiálogo em dezembro do ano passado. Segundo Luciana, o acesso àtranscrição completa, com cerca de 290 páginas, ocorreu neste mês.Ontem (19), o ex-presidente da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo (Abcta), Ulisses Fontenele, disse, em entrevista à Agência Brasil, queo acidente poderia ter sido evitado se os controladores de vôodominassem a língua inglesa. Segundo ele, menos de 10% dos cerca de 2,5mil profissionais falam fluentemente inglês.A representante daAssociação das Famílias das Vítimas do Acidente nãoconcorda. "Apesar de todo o problema com os controladores, a gentenunca os culpou. Sempre tivemos certeza de que a maior culpa de tudofoi dos dois pilotos americanos", afirmou. "Tivemos contato com peritosde fora da investigação oficial, que nos falaram que era muito difícilos pilotos não terem nenhuma culpa nesse caso. Eles ficaram perdidoscom o avião e estavam com o transponder desligado".Lucianaconsidera também que os pilotos americanos poderiam estar no Brasilajudando nas investigações da Polícia Federal. "Desde o início, ficamosindignados por eles terem ido embora sem dar nenhuma palavra. Quandochegaram em Nova York, eles já deram uma entrevista para a TVAmericana. Aqui, eles ficaram mudos, calados. E lá deram uma entrevistaque deu muito o que falar, porque eles esconderam muita coisa, queveio à tona com a caixa de voz". Ela diz que o tratamentoseria diferente se o acidente tivesse ocorrido nos Estados Unidos,envolvendo pilotos brasileiros. "Se fosse ao contrário, os brasileirosainda estariam lá esperando o julgamento".  Os pilotostambém respondem processo nos Estados Unidos pelo acidente. "Naprimeira audiência em Nova York, em nosso processo, o juíz deu os doiscomo réus". Segundo Luciana, a próxima audiência está marcada paraabril.