Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O maior acidente da aviação brasileira, ocorrido em setembro de 2006, aqueda de um Boeing da Gol que resultou na morte de 154 pessoas, poderia tersido evitado se os controladores de vôo dominassem a língua inglesa.A afirmação é do ex-presidente da Associação Brasileira dos Controladores deTráfego Aéreo (Abcta), Ulisses Fontenele. Ele alertou que menos de 10% doscerca de 2,5 mil profissionais, falam fluentemente a língua inglesa. Segundo Fontenele, os controladores que dominam o idioma,estudaram por conta própria.Ele considera que pode ter havido dificuldades de comunicação entre os pilotosdo Legacy, jato que se chocou com o Boeing da Gol, e os controladores de vôo.Para Fontenele, houve uma sucessão de erros. Ele comparou os fatos ao efeitodominó (que apenas uma peça derruba centenas de outras) e disse que uma ououtra falha que não tivesse acontecido, poderia ter evitado a tragédia“Se não houvesse essa dificuldade com o inglês, logo na saída o acidente nãoteria acontecido. Mas ocorreu uma infinidade de falhas. Se tivessem conseguidotirar uma só não haveria o acidente", afirmou.Fontenele explica que atualmente os controladores de vôo fazem um curso deseis meses de fraseologia da língua inglesa. O curso, incluído na formação dosprofissionais, ensina termos típicos do controle aéreo. “Depois disso,dependendo de onde ele vai trabalhar, ele não tem mais nenhuma reciclagem. Emseis meses ninguém vai aprender. Você aprende o básico do básico. É uma falhamuito grande na formação dos controladores”.O ex-controlador de vôo alerta que o curso pode não dar ao profissionalcondições de resolver uma situação anormal. “Se acontecer alguma situaçãoanormal, o controlador de vôo pode não saber se comunicar em inglês. Ele sóaprendeu as frases típicas, básicas do tráfego aéreo (na normalidade)”.Fontenele lembrou outras situações, não trágicas, ocorridas há décadas porfalha de comunicação entre pilotos estrangeiros e controladores. Ele citou oexemplo de um piloto americano que voava em direção ao Rio de Janeiro e, aopassar pelo Centro-Oeste, percebeu que havia queimadas no solo e informou ao controleaéreo. O controlador entendeu que o “solo” do avião estava queimando, e o aviãofoi obrigado a pousar em Brasília.Segundo a assessoria de comunicação social da Aeronáutica, desde 2004existem convênios com escolas de língua inglesa para aperfeiçoamento doscontroladores de vôos. A assessoria também informou que somente controladoresque falam inglês trabalham com vôos internacionais.