Construção de usinas deixa apreensiva população ribeirinha em Rondônia

19/02/2007 - 8h25

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As populações que vivem às margens do Rio Madeira estão apreensivas com apossibilidade da construção de duas usinas hidrelétricas em Rondônia. Seu ZéRiqueta, cujo nome de batismo é José Alves Pereira, é agricultor e planta numsítio de 151 hectares junto ao rio.Ele pesca para o consumo da família e cria carneiros. A renda com a vendados animais e da produção de feijão, milho, melão, melancia, batata doce e açaíé suficiente para sustentar ele, a mulher, o filho e a filha casada, que já lhedeu dois netos.Seu Zé Riqueta diz que participou de uma das audiências públicas promovidaspelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama),mas que não teve oportunidade de se pronunciar. Por isso, ele ainda tem muitasdúvidas, não sabe se, com o alagamento do seu sítio, vai ser transferido paraum lugar onde poderá continuar plantando.“Eu me sinto ameaçado. Aquilo que fiz, que poderia servir para meus filhos enetos, vai ser alagado. Mas o que mais tenho medo é do que vai ser dos mais velhos.Eu tenho vizinhos de até 88 anos de idade. Ninguém recomeça nessa idade, porquejá gastou todas as forças. Ele chegou aqui novo, hoje tá (sic) velho e fez tudoo que fez na vida para ter um sossego e agora vai ser preciso sair”.Cearense, o agricultor chegou em Rondônia há 35 anos e hoje, aos 67, seorgulha da plantação que cultiva na praia que se forma quando é época de seca.“É um terreno fértil a várzea, que não precisa de adubo pra plantar”, conta.O servidor público Luiz Luz Máximo também mora na beira do rio, acima dacachoeira de Santo Antônio, assim como seu Zé Riqueta, e não tem medo só de terque sair do seu lugar.“A nossa cidade não suporta esse tanto de gente que vai vir pra cá paraconstruir as usinas e que depois vai ficar desempregada. Até a terra em PortoVelho e em outras cidades está mais cara, o povo ta especulando. Tem aquivalendo ouro”, relata.A integrante do Instituto Rio Madeira Vivo, Estefânia Monteiro, que convivecom as populações ribeirinhas em função de seu trabalho, confirma que o medo ea dúvida tomam conta de todos que podem ser atingidos pela barragem do rioMadeira.“Alguns são posseiros e não têm o título da terra. Nem sabem se vão serremovidos. Mas a maioria tem medo mesmo é da mudança que vai acontecer em suasvidas. Só pra se ter uma idéia, tem  uma ilha no meio do rio, onde foramproduzidas mais de cinco mil melancias no ano passado. Essa ilha vaidesaparecer”.