Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Timidez e conservadorismo foram os adjetivos maisusados, no meio empresarial, para classificar a decisão do Conselho dePolítica Monetária (Copom) de reduzir a taxa Selic em 0,25 pontopercentual. Para a Associação Brasileira de Infra-estrutura eIndústrias de Base (Abdib), a decisão “caminha na contramão da ousadiaque o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pede ao setorprodutivo”. Foi o que divulgou em nota a associação que reúne cerca de160 empresas das áreas de energia elétrica, petróleo, transporte,construção, engenharia, saneamento ambiental, telecomunicações eindústrias de base como mineração, siderurgia, papel e celulose.“Tem alguma coisa errada, porque o PAC pede para osetor produtivo acelerar, mas Copom pede para frear”, disse opresidente da Abdib, Paulo Godoy. Para ele, só será possível investircomo quer o governo se houver cortes suficientes que façam a taxabásica de juros chegar ao fim de 2007 abaixo de 8% ao ano. O percentualestimado pela Abdib é o nominal, sem a correção da inflação.Na nota, a Abdib registra que a tendência de reduçõespequenas nos juros contamina a perspectiva do mercado financeiro,expressa na pesquisa feita pela consultoria privada Focus e “assumidapelo governo no PAC”. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, divulgou nodia do lançamento do programa, na última segunda-feira, as taxasprojetadas pela Focus e deixou claro que aquelas não eram as projeçõesdo governo. “Afinal, o governo não divulga suas projeções para nãoinfluenciar o mercado”, afirmou Mantega na ocasião. Em 2010, a taxaSelic nominal, na média, pela projeção da Focus mostrada por Mantega,chegaria a 10,1% ao ano. “A perspectiva de 2010 precisa ser antecipadajá para 2007”, avalia Godoy.O lamento também veio por parte da ConfederaçãoNacional da Indústria (CNI), que considerou a redução muitoconservadora. “Com o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), ummovimento mais conservador da redução da taxa de juros pode ser um sinal invertido em relação a tudo que o governo pretende para criarum ambiente favorável à aceleração do crescimento”, disse o presidenteda CNI, Armando Monteiro Neto.Para ele, havia espaço para uma redução de, nomínimo, 0,50 ponto percentual, porque há o entendimento de que oambiente macroeconômico do país está equilibrado e não existem pressõesinflacionárias a curto prazo. Os economistas da CNI consideram que umaqueda mais expressiva era justificável não só pelo comportamento dainflação nos últimos meses, mas também pela queda do risco-país, queestá abaixo dos 200 pontos, algo que reflete a confiança dos agentesinternacionais na economia brasileira.Paulo Godoy, da Abdib, lamenta ainda que a redução em0,25 ponto percentual possa frustrar o resultado esperado com asdesonerações tributárias previstas no PAC. Segundo ele, a decisão demanter juros altos certamente terá impacto negativo também naexpectativa dos investimentos traçada pelo governo no programa. Godoydisse que a decisão de investimento “é conseqüência de um ambientepositivo de negócios, que inclui regras claras e estáveis, perspectivade crescimento, carga tributária e juros menores, entre outrosaspectos”.