Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A coleta de sementes de plantas nativas é a principal meta, este ano, dacampanha Y Ikatu Xingu, que significa "água limpa e boa" na línguaKamaiurá, pertencente ao tronco Tupi. Lançada há três anos, a campanha objetivarecuperar nascentes e matas ciliares (as que margeiam os cursos d’água) do RioXingu no Mato Grosso.De acordo com o coordenador da campanha pelo Instituto SocioAmbiental (ISA),Márcio Santilli, lideranças indígenas vão recolher sementes em remanescentesflorestais e municípios da região já construíram viveiros, porém a coleta aindaé pequena diante do tamanho das áreas degradadas.“Um esforço de recuperação em maior escala de matas ciliares da região vaidemandar uma quantidade muito grande de sementes de diversas árvores”,explicou, em entrevista à Agência Brasil. “Essas sementes de espécies nativasnão são passíveis de compra no comércio local, portanto tem que haver esforçogrande de coleta, tratamento e distribuição.”Os recursos para o trabalho virão de parcerias com os governos federal,estadual e municipais. Segundo Santilli, a campanha possui 15 projetos,sendo que alguns devem começar neste ano, como o da Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária (Embrapa).Em três anos, a empresa vai capacitar pessoas e instituições sobre o uso daágua, plantio e apoio a assentados, além do desenvolvimento de experimentos napecuária. O custo será de R$ 1 milhão, dividido igualmente entre a empresa e oMinistério da Ciência e Tecnologia.Além de prefeitos e indígenas, fazendeiros, assentados e a universidadelocal aderiram à campanha. Para o coordenador, a participação de quem “tem amão na massa” é fundamental para a recuperação das nascentes e matas ciliares ereverter a cultura do desmatamento, trazida pelas famílias que migraram para oXingu.“As pessoas trouxeram um tipo de cultura agrícola ou de cultura de ocupaçãode território que tiveram dos seus pais e avós, da própria orientação históricaque o Estado brasileiro deu para esse tipo de ocupação. Muitas pessoas eramestimuladas a desmatar até para comprovar a posse efetiva das áreas”, ressaltouSantilli. A expansão agrícola, o desmatamento e as queimadas têm provocado aseca de várias nascentes e destruição das matas em torno do rio, conforme dadosdo ISA.Criado em 1961, o Parque Indígena do Xingu tem atualmentecerca de 2,6 milhões de hectares, porém as nascentes dos rios formadores doXingu, principal rio da região, ficaram de fora do parque. O projeto originalpara o local, defendido pelos irmãos Villas Boas, por Darcy Ribeiro e pelomarechal Cândido Rondon junto a Getúlio Vargas, previa uma área quatro vezesmaior.