Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Manaus - O diretor-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Alto RioNegro (Foirn), Domingos Barretos, elogia a adoção de três línguas indígenascomo idiomas co-oficiais em município do Amazonas.“Quando a gente viaja para fora do país, precisa aprender outras línguas.Quem não for indígena e vier para cá, terá que aprender nosso idioma para secomunicar com a gente”, comentou, em entrevista à Radiobrás.O prefeito de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, Juscelino Gonçalves,assinou hoje (10) o decreto que regulamenta o reconhecimento de Tukano, Baniwae Nheengatu como línguas oficiais do município, ao lado do português. É aprimeira vez no Brasil que idiomas indígenas são considerados co-oficiais – aConstituição Federal estabelece que o português é o idioma oficial do país.Para Barretos, o fundamental é fazer o controle social da nova legislação edesenvolver ações de educação e capacitação: “Queremos construir com asinstituições públicas um programa de trabalho para aplicar a lei, oferecendocurso de formação para os servidores entenderem a importância dessas línguas”.A Lei 145/2002 surgiu de uma iniciativa da Foirn, uma articulação que reúne660 entidades indígenas de 22 povos. O projeto de lei que lhe deu origem é deautoria do vereador indígena Camico Baniwa e foi elaborado em parceria com oInstituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (Ipol). Odecreto de regulamentação começou a ser esboçado em abril deste ano, em umgrande seminário organizado pelas lideranças indígenas.“Em 1987, quando a Foirn foi criada, falar português era sinal desuperioridade. Foi nossa política de valorização da cultura e da tradição queafastou esses idiomas do risco de extinção”, ressaltou Barretos. Segundo ele, ademanda pela co-oficialização das três línguas indígenas mais faladas nomunicípio veio do movimento de professores indígenas em 1998, ano em que foicriado o primeiro magistério indígena em São Gabriel da Cachoeira.De acordo com Barretos, pelo menos 5 mil indígenas têm o Baniwa como idiomaprincipal; 4 mil, o Tukano; e 3 mil, o Nheengatu. Ele observou, no entanto, queo número de falantes dos três idiomas é bem maior e difícil de estimar, porqueé comum os indígenas da região aprenderem línguas de outros povos. Apesar de ser hoje considerado língua materna por diversos povos indígenasque habitam a Amazônia, como os Baré, em São Gabriel da Cachoeira, as origensdo Nheengatu estão no processo de catequização. O Nheengatu surgiu a partir doTupi e foi introduzido pelos jesuítas na região. Muitos povos que perderam sualíngua original durante o processo de colonização adotaram o Nheengatu comolíngua principal.São Gabriel da Cachoeira é o município brasileiro com maior porcentagem de populaçãoindígena: 73,31% dos 29,9 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE).