Paulo Montoia
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - As principais variáveis da economia nacional e do mercado externo são favoráveis para um projeto de desenvolvimento econômico seguro nos próximos anos. A opinião é do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade de Campinas (Unicamp) e um dos formuladores do programa econômico do primeiro mandato de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após participar, na noite de ontem (6), da premiação de empresas promovida pela revista Carta Capital, Belluzzo afirmou que "as crises de estrangulamento externo sempre foram o calcanhar de Aquiles do Brasil. Crises relacionadas com balanço de pagamentos, com endividamento excessivo, isso não existe mais neste momento. Então, o Brasil tem todas as condições de começar um projeto de desenvolvimento, sem essa tensão e com a inflação sob controle, como nunca esteve na segunda metade do século 20”. Na opinião do economista, "a situação internacional mudou muito – e mudou a favor do Brasil". Ele lembrou que "a China é uma presença que diferencia a divisão internacional do trabalho, favoravelmente a nós, mas não podemos nos conformar em nos transformar em produtores de commodities e exportações de matérias-primas. Nós temos de dar curso ao processo de industrialização, porque sem isso vai ser difícil criar emprego”. Ainda segundo Belluzzo, “o Brasil teve de se acomodar a uma situação muito desfavorável, com tensão nos mercados financeiros. O Lula teve de tomar posse com uma tensão enorme. O Risco Brasil subiu a 2.400 pontos e a taxa de câmbio explodiu. Então, foi prudente a maneira como foi feita a transição. Depois, quando as condições internacionais melhoraram, o governo podia ter dado uma aceleradinha no crescimento. Ele foi um pouco lento para fazer isso, foi razoavelmente lento para fazer isso, quando tudo já estava se ajustando, pelas nossas virtudes e pelas virtudes da situação externa". Sobre a prioridade dada ao combate à inflação na política monetária, o economista disse que “se a inflação voltar, ela não voltará em nada parecido com o que aconteceu no passado. Então eu acho que é ruim o Lula dizer que a taxa de inflação está abaixo da meta, porque quando se põe abaixo da meta, perde-se taxa de crescimento". Para Belluzzo, vai demorar a separação da dupla função que a taxa Selic (taxa básica dos juros da economia) tem hoje, de regular a inflação e também remunerar a rolagem da dívida pública: “Normalmente, a taxa Selic é a que regula o mercado bancário, o mercado de dinheiro. A taxa dos títulos públicos deveria ser uma outra taxa, obtida em leilão pelo Banco Central. Mas isso vai demorar para acontecer, porque depende de um período prolongado de estabilidade, de crescimento, de aumento de investimento e da dívida privada. É preciso ter paciência – esticar o prazo da dívida pública, mudar o indexador dos títulos públicos, isso não se faz da noite para o dia”.