Barjas Negri diz que acordos para liberação de recursos na saúde eram apenas políticos

07/11/2006 - 17h16

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O ex-ministro da Saúde Barjas Negri (PSDB) admitiu hápouco, em depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dosSanguessugas, a existência de acordos políticos para a liberação de recursos.Negri ressaltou, no entanto, que desconhecia o esquema de favorecimento dasempresas privadas, com utilização ilegal das verbas do orçamento para a comprade ambulâncias.“Não dá pra colocar nas costas doMinistério da Saúde as relações dos Vedoins [donos da Planam] com as prefeituras. O nossocompromisso era com as prefeituras”, afirmou Negri, atual prefeito dePiracicaba e ministro da Saúde de fevereiro a dezembro de 2002, durante agestão de Fernando Henrique Cardoso.Segundo ele, os convênios passavam por avaliações técnicaspara adequar os pedidos dos parlamentares à realidade do orçamento. Osparlamentares e as bancadas indicavam as entidades beneficiadas com osrespectivos valores. As emendas eram pagas de acordo com a disponibilidadefinanceira do ministério.“O que havia era uma relação estreita com osparlamentares. Os recursos para as emendas representavam de 0,6 a 1,5% doorçamento do Ministério da Saúde. Mais de 10 mil pedidos eram feitos por ano eentre 2 mil a 3 mil aprovados”, calcula Barjas Negri, que foi secretário-executivodo ministério na gestão do ministro Carlos César Albuquerque, no primeirogoverno de Fernando Henrique Cardoso.Nessa época, segundo Negri, oministério cortou em 20% o número de emendas parlamentares incorporadas aoorçamento para incentivar estados e municípios a também apresentarcontrapartidas aos investimentos.“Às vezes eram realizados acordos políticos para aliberação de mais recursos. Recebi muito pleito para atender, mas isso não significavaliberar. Grande parte das emendas eram aprovadas sem coloração partidária, como critério de inclusão de municípios mais carentes”, contou Barjas Negri.O ex-ministro disse que no início do governo FernandoHenrique Cardoso a maior parte dos recursos em saúde foram liberados para aconclusão de obras inacabadas em hospitais e postos de saúde. O financiamentode ambulância teria aumentado no segundo mandato, mas ainda assim seriainferior ao realizado no atual governo.Um levantamento apresentado por Negri mostra que em 2002 oministério firmou 634 convênios para a compra de ambulâncias, em um valor totalde R$ 49,8 milhões. Em 2005, o número de convênios teria passado para 1.477, movimentandoum total de R$ 149,9 milhões.“O Ministério da Saúde não sabia que havia o esquema deintermediação. Nunca ouvir falar da Planam, nem conheço os Vedoin, donos daempresa”, afirmou o ex-ministro.Sobre o empresário Abel Pereira, apontado comointermediador no esquema de favorecimento, Barjas Negri disse que o conheciacomo um empresário atuante em Piracicaba, mas só o recebeu em audiência umavez, em 2002, durante uma reunião com o prefeito de Jaciara, que reivindicavarecursos para a conclusão de obras.Perguntado sobre uma doação de R$ 15 mil, feita pelaSicat, empresa de Abel Pereira, para a sua campanha em 2004, Negri negou que osrecursos tenham sido repassados como forma de beneficiamento ilegal.