Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A primeira pesquisa de opinião pública realizada no país para avaliar a percepção da sociedade sobre trabalho infantil revela que para 44,1% dos entrevistados a idade mais adequada para a entrada no mercado de trabalho é até os 15 anos, o que é proibido pela Constituição. O levantamento foi feito pelo Ibope em março deste ano, a pedido da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Foram ouvidas 2.002 pessoas, com mais de 16 anos, em 144 municípios. O levantamento também mostra que a maioria dos brasileiros tem uma visão crítica sobre o trabalho infantil. No entendimento de 54,7% dos entrevistados, a idade para o primeiro emprego deve ser com 16 anos ou mais, como prevê a Constituição.Nos dois últimos anos, a percepção da população em geral sobre o trabalho infantil não sofreu variações significativas, segundo a OIT e a Andi. A pesquisa foi feita em duas etapas (uma em 2006 e outra em 2004) dando a possibilidade de comparar os dados referentes aos dois períodos. Em 2004, 45,3% dos entrevistados disseram acreditar que a idade para começar a trabalhar deveria ser até os 15 anos, enquanto 53,2% afirmaram que o ideal seria aos 16 anos ou mais.Na primeira etapa também foram ouvidas 2.002 pessoas, em 140 municípios. Em ambos os casos, a margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos. Se for analisado o perfil da população entrevistada, 60% cursaram até a 8ª série do ensino fundamental e cerca de 80% tinham renda familiar mensal de até cinco salários-mínimos.Na avaliação do coordenador do programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil da OIT, Pedro Américo Furtado de Oliveira, a pesquisa é um instrumento importante para melhorar as ações de combate à exploração da mão-de-obra de crianças, tanto do poder público como da sociedade civil organizada.Para o coordenador, é preciso investir mais em campanhas para mudar a percepção de que o trabalho infantil é uma alternativa para as famílias pobres. Quase um terço dos entrevistados em 2006 acham que é preferível a criança trabalhar a estar na rua. E 37,1% discordam da frase “o trabalho infantil gera pobreza, desemprego e é prejudicial para a economia do país”, enquanto 55,5% concordam.“Muitas pessoas ainda não conseguiram parar e pensar se, de fato, o trabalho infantil é uma solução para a pobreza. Talvez seja um alívio naquele momento para a fome, mas não vai ser a solução para a pobreza nem daquela criança nem do país”, avaliou Oliveira.No entendimento dele, um dos problemas que dificultam o combate ao trabalho infantil é que a população tolera algumas atividades, como se fossem menos prejudiciais. Um exemplo disso é que 39% dos entrevistados não consideram trabalho infantil a criança fazer malabarismo nos semáforos.O representante da OIT lembrou que além de prejudicar os estudos essa atividade expõe as crianças a uma série de riscos. “A criança que está na rua é assediada por traficantes, é alvo de aliciadores para a exploração sexual comercial, para a pornografia, a pedofilia”, ressaltou.