Índios discutirão com Ministério da Agricultura permanência em antigo museu do Rio

22/10/2006 - 17h05

Aline Beckstein
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Os 35 índios de 17 etnias que ocupam o antigo prédio do Museu do Índio, na zona norte do Rio de Janeiro, começaram a organizar hoje (22) uma feira de artesanato com o objetivo de arrecadar dinheiro para a sua permanência no local. Eles estão no casarão abandonado desde a noite de sexta-feira (20) e reivindicam a transformação do espaço em um centro cultural administrado por indígenas. O grupo já conseguiu iniciar negociações com representantes da comissão do Ministério da Agricultura, responsável pelo local, e agendou uma reunião para a tarde de amanhã (23). A casa onde funcionou o museu está com as portas e janelas quebradas, poças de água, lixo e poeira acumulados. Segundo Graça Krikati, do Maranhão, os índios se reúnem no Movimento Tamoio e não contam com ajuda da Fundação Nacional do Índio. "A gente trouxe um pouco de feijão, que está sendo feito nesse fogão de duas bocas. Com o dinheiro que arrecadarmos, ainda vai dar para comprar um pouco de arroz”, disse. José Guajajara, também do Maranhão, lembrou que o local está abandonado desde 1978, quando o museu foi transferido para o bairro de Botafogo, na zona Sul da cidade, “um espaço apertado, muito menor do que este”. Ele contou que o objetivo do movimento é criar um centro cultural que não tenha um perfil de museu e mantenha cursos constantes, como o de línguas indígenas. “Eu conversei com pajés que chegaram a participar das atividades do antigo museu, que quando foi criado por Darcy Ribeiro tinha outro espírito. Nós ensinávamos a fazer biju (tapioca) e trançados, num esquema de interação constante – não era só festa em abril, no chamado mês do índio”, disse.À tarde, eles promoveram uma manifestação, o toré, em que também foram convidadas a dançar algumas pessoas que passavam pelo local. Entre elas, o professor de ioga Horivaldo Gomes, que levou a filha e a mulher. “A gente só conhece a história contada pelos portugueses. Estar aqui é como se estivéssemos retornando às nossas raízes, principalmente para mim, que sou neto de um índio”, disse. A dança do toré foi uma comemoração antecipada a uma resposta que os índios esperam ser positiva, amanhã. Afonso Apurinã, do Acre, contou que ontem (21) a dança chegou a ser interrompida por uma idosa, que ocupa um trailer abandonado do Ministério da Agricultura, no casarão: “Quando começamos a dançar, ela gritou que nós estávamos com o demônio no corpo. E veio, raivosa, com uma bíblia para cima da gente”.