Pesquisa do Ipea aponta que 71% dos mais pobres brasileiros são negros

25/09/2006 - 21h34

Thiago Brandão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A segunda edição da pesquisaRetrato das Desigualdades, realizada pelo Instituto de PesquisaEconômica Aplicada (Ipea) e pelo Fundo de Desenvolvimento das NaçõesUnidas para a Mulher (Unifem), aponta que na parcela de 10% dos mais pobres da população brasileira (dentro do total de 30,2% de pobres), 71% são negros. Entre os 10% mais ricos, osnegros são 18%. E 1% deles tem 11,3% de negros. “Há um embranquecimento da população conforme se sobe napirâmide social”, avaliou Luana Pinheiro, coordenadora da pesquisa noIpea.

O estudo divulgado hoje (25) também levantou diferenças no nívelde escolaridade e no acesso a educação, saúde, previdência, trabalho,habitação e saneamento, para homens e mulheres, negros e brancos, dazona urbana e rural. E foi realizado com base nos dados coletadosanualmente, de 1993 a 2004, pela Pesquisa Nacional por Amostra deDomicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE).

“Muitos dados seguem a tendência apontada na primeira edição dapesquisa. O que chama realmente atenção é que, apesar de verificarmosmelhoras para quase todos os grupos, as diferenças entre eles semantêm”, afirma Pinheiro.

Deacordo com a pesquisa, o grupo que mais sofre discriminação – racismo e sexismo – é o de mulheres negras. Elas demoram mais para conseguir trabalho, têmmenos escolaridade e menos acesso a cuidados para a saúde, trabalhammais tempo e têm a pior remuneração. A coordenadora avaliou que “a discriminação é resultado de umproblema histórico, de estereotipar as pessoas conferindo a elas menorcapacidade e menor inteligência. É o que acontece com este grupo”.

O estudo mostra que em 1993, os brancos estudavam 2,1 anos amais que os negros e que em 2004 a diferença caiu para 1,9 ano. Se não forem tomadas medidas específicas, afirmou a pesquisadora do Ipea, essa realidade tende a se perpetuar: "Grupos diferentes precisam sertratados de maneiras diferentes. Ações afirmativas temporárias, como ascotas para negros em universidades públicas, podem alterar estequadro”.

O acesso à saúde também é diferenciado, aponta a pesquisa. Enquanto 44,5% das mulheres negras nunca haviam realizado exame clínicode mamas em 2004, o total de brancas sem o exame era de 27%. E 20% da população negra nunca fizeram consultas odontológicas, contra 12% da população branca. Em relação à exclusão digital, 92,4% da população negra não tinham acesso a um computador em 2004, contra 76,9% da população branca. O percentual de negros que não tinha acesso à internet era de 94,7% e o de brancos, de 82,2%.