Thiago Brandão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Leitos de hospitais psiquiátricos estão sendo extintos desde a promulgação da lei 10.216, em 2001. E alguns pacientes que saem desses leitos passam a viver nas ruas ou acabam presos, segundo o professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo e diretor de psiquiatria do Hospital das Clínicas, Valentim Gentil.Ele e outros especialistas criticaram o modelo de assistência à saúde mental em vigor no país durante o Fórum Ética e Políticas Públicas de Saúde, que ocorreu em Brasília na sexta-feira (22) durante o 3º Simpósio Internacional Sobre Depressão e Transtorno de Humor Bipolar.A lei 10.216 instituiu a Reforma do Modelo de Assistência em Saúde Mental no Brasil, conhecida como reforma psiquiátrica, que prevê a redução do número de leitos para internação e a criação de centros de atenção psicossocial (Caps), que promoveriam tratamentos sem internação.Gilson Magalhães, da Associação de Familiares de Doentes Mentais da Bahia, participou do fórum e concorda com Gentil. Segundo ele, 520 leitos psiquiátricos foram extintos na Bahia de janeiro a junho de 2006. “Das pessoas que ocupavam esses leitos, 16 foram instaladas em uma residência terapêutica. As outras 504 saíram dos hospitais e não sabemos onde estão. Inclusive, 62 não tinham qualquer referência familiar”.A representante do Grupo de Familiares de Doentes Mentais do Rio de Janeiro, Ligia Nogueira Moreno, disse que as famílias precisam recorrer à Justiça para conseguir internações de emergência. “A pessoa é levada ao hospital, toma uma injeção e é mandada para casa, mas a crise continua. Precisamos recorrer a um juiz de plantão, que ordena a internação. E quando não há família?”, questiona.“O modelo no qual o Brasil se inspirou, que é a reforma psiquiátrica italiana, deu ao paciente alternativas de tratamento antes de retirar dele o leito”, afirma Gentil. “Temos hoje pelo menos dez pessoas amarradas em macas ou que estão em camas ou no chão de hospitais do município de São Paulo. A prefeitura informou que, no fim de agosto, 268 pessoas tiveram a internação inviabilizada por falta de leito”, completa.Os participantes do fórum defendem a ampliação do sistema de atendimento. No Brasil, existem 27 Caps que funcionam 24 horas. Cada um tem cinco leitos e as internações não podem ultrapassar uma semana. “Não queremos o retorno daquele modelo medieval de hospital. Todos acreditamos que a internação é o último recurso, mas ela pode ser necessária em um tratamento”, diz o psiquiatra.Procurado desde sexta-feira para comentar o assunto, o Ministério da Saúde não se pronunciou até o momento.