Deputado estadual do Rio é o único candidato na lista suja do trabalho escravo, segundo ONG

25/09/2006 - 10h04

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Um levantamento realizado pela organização não-governamental Repórter Brasil, que atua contra o trabalho escravo, constatou que apenas um dos candidatos às eleições do próximo final de semana está no cadastro de empregadores envolvidos com a exploração de trabalhadores na condição análoga a de escravos. A chamada “lista suja” do Ministério do Trabalho e Emprego tem 140 empresas e pessoas, entre elas a fazenda do candidato a deputado estadual (reeleição) Jorge Picciani (PMDB), dono da Agropecuária Vale do Suiá (Agrovás) e por duas vezes presidente da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.Uma fiscalização do grupo móvel do Ministério Público, do Ministério do Trabalho e da Polícia Federal, realizada em 24 de junho de 2003, encontrou 41 trabalhadores em situação análoga a de escravos na propriedade, localizada em São Felix do Araguaia (MT).Um inquérito foi instaurado pela Procuradoria Regional do Trabalho de Mato Grosso e, uma ação civil pública, iniciada na Justiça do Trabalho. A fazenda só entrou na lista em dezembro de 2004 e deve sair no final deste ano. Na Justiça, a Agrovás fez um acordo em que se comprometeu a reparar os danos causados.Segundo o Ministério Público, o deputado está pagando uma indenização por danos morais coletivos de R$ 250 mil e passou a oferecer atendimento odontológico aos trabalhadores, como previa o acordo.De acordo com a assessoria de imprensa da Procuradoria do Trabalho de Mato Grosso, a Delegacia do Trabalho do estado  fiscaliza a fazenda para garantir que os direitos trabalhistas dos funcionários sejam oferecidos pela Agrovás.A assessoria de Jorge Picciani informou que o caso já foi resolvido com o acordo e que não há pendências. Os advogados devem entrar na Justiça nos próximos dias para retirar o nome da propriedade do “cadastro do trabalho escravo”.Segundo o coordenador da organização não-governamental Repórter Brasil, Leonardo Sakamoto, apesar do levantamento na “lista suja” só ter apontado um candidato, o número de políticos envolvidos com trabalho escravo no país é muito maior.“A lista suja já teve outros políticos que passaram por ela, tem políticos que não concorrem a cargos eletivos neste ano. E há outros políticos que estão suspensos da lista por decisão judicial. Infelizmente ainda tem uma classe política envolvida direta ou indiretamente com o trabalho escravo. Mas a gente acredita que é uma coisa que vai diminuir com o tempo e com a pressão da sociedade”, disse Sakamoto.