Seminário evidencia possibilidades e obstáculos para a criação de peixes no Norte

21/09/2006 - 14h46

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Manaus - A região Norte, onde está localizada a maior rede hidrográfica do planeta, é a que menos contribui para a criação de peixes no Brasil (responde por apenas 9% da produção nacional). O dado foi lembrado hoje (21) pelo secretário executivo de Pesca e Aqüicultura da Secretaria Estadual de Produção Rural do Amazonas, Geraldo Benardino, durante o segundo e último dia do 1º Seminário de Arranjos Produtivos Locais e Desenvolvimento Regional.O Brasil produz por ano cerca de 1 milhão de toneladas de pescado, das quais 300 mil quilogramas vêm de criações. Entre 1995 e 2004, a produção de peixes no país subiu 32% – mas a produtividade da pesca só aumentou 1% nesse período, enquanto que a da piscicultura cresceu 750% (sete vezes e meia).O pesquisador Roger Crescêncio, da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) Amazônia Ocidental, apresentou como inviável, até aqui, o projeto de criação de tambaquis em tanques-rede (que ficam submersos em rios ou lagos). “Criando 50 peixes por metro cúbico [limite considerado ideal], o lucro por quilograma seria de apenas dois centavos”, disse Crescêncio. “Se criar menos de 50, a pessoa terá prejuízo”, completou. Como possíveis explicações para a difusão dessa escolha, ele citou o custo inicial baixo (em relação ao de tanques escavados e barragens) e aproveitamento dos corpos de água corrente.Os resultados da experiência da produção de matrinxãs em canais de igarapés em Manaus foram mais animadores. O pesquisador Jorge Daniel Fim, coordenador da iniciativa, conjugada à reforma agrária e desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) no Projeto de Assentamento Tarumã Mirim, relatou: “Produzindo de 800 a mil quilos de peixe por ano, a pessoa pode acrescentar à renda familiar em torno de R$ 150 por mês, além de suprir a necessidade de alimentação para a família toda”. Ele explicou que o objetivo principal era a produção para subsistência. “Antes os assentados estavam passando fome.”De acordo com dados divulgados pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia do Amazonas, organizadora do seminário, o peixe representa 70% da proteína consumida pela população da Amazônia. O consumo per capita na região é de 155 gramas de peixe por dia, enquanto que a média nacional é de apenas 16 gramas diárias. “Os consumidores dos outros estados têm resistência ao peixe amazônico porque ele é gorduroso. Eles não sabem que é uma gordura saudável, nutritiva”, avaliou o chefe de Recursos Pesqueiros da Agência de Florestas do Amazonas (Afloram), Augusto Kluczkovski Junior. “Falta uma campanha também para os consumidores locais. Eles compram nas feiras peixes descongelados, que vieram de frigoríficos do interior, acreditando que o produto está fresco.”O Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas (Idam) estima que haja no estado 770 piscicultores – sete em cada dez seriam pequenos e médios produtores.