Aline Beckestein*
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Familiares e amigos que enfrentam a perda de alguém que tirou a própria vida convivem com sentimentos ambíguos, que misturam dor, raiva, vergonha, sensação de culpa, preconceito e estigma social.Oferecer ajuda especializada a essas pessoas, acolhendo-as e proporcionando acompanhamento na superação do trauma são algumas medidas que fazem parte do projeto ComViver. Lançado na noite de ontem (30) pelo Ministério da Saúde, o projeto conta com um centro de atendimento gratuito, que já está funcionando no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. A partir da semana que vem, os interessados podem entrar em contato pelo telefone (21) 2246-5656 ou pelo e-mail: projetocomviver@terra.com.br. A principal frente de atuação da unidade são as terapias de grupo.“Em um outro tipo de morte, os familiares costumam se unir para lembrar das pessoas em datas festivas. Falam sobre suas recordações, choram. Mas quando se trata de suicídio, a tendência é o silêncio, pois essa perda está associada a vários sentimentos contraditórios”, diz uma das coordenadoras do projeto, a psicanalista Ana Ferrara.Daí a importância de as pessoas falarem sobre o assunto, compartilharem suas experiências e ficarem atentas ao fato de que o suicídio pode ser prevenido e abordado de forma coletiva, acrescenta o coordenador da Estratégia Nacional de Combate ao Suicídio, o psiquiatra Carlos Felipe Oliveira.O centro também vai oferecer indicações de como fazer trabalhos voluntários para projetos de prevenção do suicídio. Para tanto, desenvolverá pesquisas a partir da experiência de familiares atendidos e que queiram ser voluntários. Segundo Oliveira, o Rio de Janeiro foi escolhido para receber o projeto-piloto por ter pesquisas e experiências consolidadas nessa área. O Ministério da Saúde investiu R$ 420 mil no projeto, que conta com o apoio da Organização Pan-americana de Saúde (Opas).O ComViver é a primeira ação da Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio, cujas diretrizes estão sendo discutidas desde 2005 por um grupo de trabalho formado por representantes do governo, organizações civis e universidades. A idéia é apresentar o plano ainda este ano à Comissão de Seguridade Social e da Família da Câmara dos Deputados. Se aprovado, o Brasil será o primeiro país da América latina a ter uma política nesse sentido.