Delegacia e ouvidoria agrária questionam denúncia de assassinato de sem-terra no Pará

29/08/2006 - 16h36

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Manaus - A Delegacia Especializada em ConflitosAgrários (Deca) de Marabá (PA) e a Ouvidoria Agrária Nacionalquestionaram a denúncia da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de que osem-terra José Lopes do Carmos – mais conhecido como Antônio Capixaba –foi morto por pistoleiros. O assassinato ocorreu no último dia 17, nomunicípio de Itupiranga (PA), dentro da fazenda da qual fora despejadohavia poucos dias.A CPT afirma que Capixaba é o terceiro agricultor morto em conflitosagrários no sul e sudeste do Pará neste ano. De acordo com dados daentidade, 654 trabalhadores rurais foram assassinados em luta pelaposse da terra nessa região, entre 1971 a 2004.Capixaba fazia parte das 56 famílias que ocuparam a fazenda Rainha porum ano e sete meses até serem despejadas pelo Batalhão de Choque daPolícia Militar. A ação de reintegração de posse ocorreu no dia 21 dejulho.Os sem-terra montaram, então, um acampamento ao lado da fazenda, dentrodo projeto de assentamento Limeira. No dia do crime, Capixaba haviaentrado  na propriedade para buscar seu cavalo. E foi alvejado comum tiro de revólver na cabeça e outro de espingarda no tórax.Em matéria publicada pela Agência Brasil no último dia 23, o agente daCPT Aírton Pereira acusou a Deca de negligência. Hoje (29) ele voltou aafirmar que essas 56 famílias ainda sofrem ameaças de pistoleiroscontratados pelo proprietário da fazenda, o pecuarista Wilson LuizPereira.“A partir do momento em que soubemos do homicídio, fomos ao local.Identificamos pessoas que estavam no interior da propriedade, sem armasde fogo. Elas se diziam trabalhadores da fazenda, não dá para afirmarque sejam pistoleiros”, declarou o delegado-titular da Deca, VicenteGomes.“Inicialmente não temos um suspeito específico”, acrescentou. “Primeiroprecisamos saber o círculo de amizades, o comportamento da vítima. Emprincípio, a gente não pode dizer que o crime tenha vinculação diretacom conflito agrário”.Segundo o ouvidor agrário regional, Celso Florêncio, o acampamento nafazenda Rainha era “atípico”, pois as famílias estavam “muitoespalhadas”. “Recebemos denúncias de que os ocupantes estavam vendendolotes e colhemos depoimentos que reforçam essas acusações”, avaliou.“Não há clareza ainda quanto à autoria do crime, mas provavelmentepessoas que adquiriram os lotes e os perderam [com a reintegração deposse] fizeram um acerto de contas. Outra hipótese é o alcoolismo –vimos muitas pessoas embriagadas”, disse Gomes.  A CPT rebate asdeclarações da polícia e diz que os argumentos citados repetem o mesmodiscurso contra a reforma agrária desde a década de 70.