Outras aldeias da terra kayapó devem participar de operação contra invasões

28/08/2006 - 20h24

Julio Cruz Neto
Enviado especial
Aldeia Kikretum (Pará) - A Operação Kayapó, que combate invasão de terra indígena no sul do Pará, foi detonada a partir da aldeia Kikretum. Os vizinhos viram, gostaram da idéia e pediram para participar da segunda fase, que consiste em manter ocupado o local que foi tomado dos criminosos, para evitar que eles retornem – o que já ocorreu uma vez.“As outras aldeias estão enciumadas. Pretendemos fazer um revezamento”, explica Eimar Araújo, coordenador da operação. “O kayapó é educado para ser guerreiro, então é como se a gente estivesse prestigiando mais uns que os outros”. Mas ele aponta outra razão para os índios quererem colaborar: a possibilidade de ganhar utensílios como rede e coberta para vigiar a região. “A carência é muito grande...”, complementa.A diretora de Assuntos Fundiários da Funai, Nadja Bindá, diz haver autonomia entre de diferentes aldeias da região, e considera essencial levar em conta este fator na hora de estabelecer a estratégia de ocupação. “A gente identificou que isso vai ter que ser feito respeitando as diferenças internas. Eles se colocam como aldeias, cada uma com sua autonomia, com suas lideranças e expectativas”.Ela não considera, no entanto, que a autonomia seja um obstáculo. “Não é que atrapalha, mas exige um esforço de compreensão. Você não pode falar contra a autonomia, você tem que tomá-la positivamente e construir eixos de integração assumidos por eles. Isso leva tempo, porque não está na cabeça deles. Mas não pode ser encarado como negativo, porque dentro de cada núcleo desses [de aldeias], eles são muito unidos”.De acordo com a diretora, é inviável trabalhar com povos indígenas no Brasil sem respeitar a autonomia dos grupos familiares. “Se não respeitar, não funciona. Você faz uma ação, mas ela não tem continuidade, não se concretiza, porque de alguma forma você passou por cima disso”.A Operação Kayapó, articulada pela Funai, Ibama e Polícia Federal, descobriu até agora 19 trabalhadores, sete suspeitos de serem mandantese cinco possíveis grileiros com alguma participação na invasão. Nasemana passada, o presidente da Funai, Mèrcio Pereira Gomes, foiacompanhar junto aos índios kayapó o balanço da operação de retirada deinvasores.