Desilusão, custo de campanha e denúncias tiram parlamentares da disputa eleitoral

23/07/2006 - 0h20

Edna Dantas
Repórter da Agência Brasil
Rio - Apenas 15 dos 513 ocupantes da Câmara dos Deputados não vãoconcorrer a nenhum cargo nas eleições de outubro, segundo levantamentodo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).Desilusão com a política, custo de campanha, investigação por denúnciasde corrupção ou problemas de saúde são os principais motivos quelevaram esses parlamentares a desistirem da disputa eleitoral, segundoo Diap.Deputada suplente pelo PSDB de Tocantins, a dentista Ana Alencar temretomado aos poucos o atendimento em seu consultório na cidade deParaíso, a 63 quilômetros da capital, Palmas. Até o final deste ano,ela continua ocupando um gabinete no anexo IV da Câmara. No entanto, jádecidiu que não vai disputar a reeleição. Ana Alencar atribui a dois fatores sua decisão de não disputar aeleição: desilusão e falta de dinheiro. “Cheguei em Brasília com muitaesperança, com vontade de trazer benefícios para o nosso estado e vi quenão era o que eu pensava. Foi um período muito complicado, com muitaCPI, muita corrupção, a ponto dos meus filhos terem vergonha de falarque a mãe deles era uma deputada”, afirmou à Agência Brasil.A questão financeira, no entanto, pesou mais na decisão da deputada.“Eu não tenho condição financeira de bancar uma campanha agora paradeputado federal sem nenhuma doação de empresário. Eu não tenho doaçõesexternas e nem como dentista eu tenho condição de bancar uma eleiçãocaríssima. Salário por salário, eu tirotranqüilo no meu consutório."Ex-governador do Rio de Janeiro e deputado por três mandatos, odeputado Moreira Franco (PMDB-RJ) escreveu uma carta, divulgada em suapágina na internet (www.moreirafranco.com.br) , para explicar as razõesque o fizeram desistir da reeleição. “A primeira, foi a constatação deque a Câmara dos Deputados, afundada no descrédito e na inoperância,mesmo renovada, não terá condições de liderar o processo de reformapolítica e moral que o país reclama”, escreveu. “A segunda, foi o desencanto com o meu partido, o PMDB, por assumir aposição de não lançar candidatura própria à presidência da República enem apoiar, oficialmente, nenhum candidato para negociar, em nome da‘governabilidade’, sustentação parlamentar com o presidente escolhidonas urnas”, afirmou Moreira Franco. Segundo ele, a legislatura que seencerra o obrigou “a conviver com os piores momentos da vidaparlamentar brasileira”.No entanto, o número de deputados que não vão disputar nenhuma eleiçãoé pequeno se comparado com legislaturas anteriores. “O índice derecandidatura de pessoas disputando o mesmo mandato é maior”, comparaAntônio Augusto Queiroz, diretor de Documentação do Diap. Pelolevantamento do Diap, 498 deputados vão disputar as eleições, 438tentarão a reeleição como deputados federais e outros 45 entrarão nabriga por outros cargos eletivos como senador e governador.No caso específico dos 15 que desistiram da disputa de outubro próximo,cinco são acusados de envolvimento nos escândalos que mais repercutiramna atividade parlamentar nestes últimos quatro anos: o mensalão e oesquema de compra superfaturada de ambulâncias. Segundo Queiroz, as razões dos outros dez parlamentarespara não entrar na corrida eleitoral têm relação com custo de campanhaou problemas de saúde. Contudo, o fato de não concorrerem nesta eleição, não significa, no entanto, queestes 15 deputados vão abandonar a política.Segundo o levantamento doDiap, estão fora da disputa de outubro os deputados Ana Alencar,Moreira Franco, Antonio Cambraia (PSDB-CE), Jair de Oliveira (PMDB-ES),Romel Anízio (PP-MG), Anivaldo Vale (PSDB-PA), Bosco Costa (PSDB-SE),Luiz Carlos Santos (PFL-SP), Wanderval Santos (PL-SP), Vittorio Medioli(PV-MG), Roberto Brant (PFL-MG), Zelinda Novaes (PFL-BA), Teté Bezerra(PMDB-MT), José Divino (PRB-RJ) e Edna Macedo (PTB-SP). O deputadoRoberto Brant foi apontado como beneficiário do esquema do mensalão. Osúltimos quatro nomes estão na lista de parlamentares investigados pelaCPI dos Sanguessugas.