Juliane Sacerdote
Da Agência Brasil
Brasília - A TV Digital foi o tema de ontem (5) no programa Diálogo Brasil, da TV Nacional. A discussão abordou vários aspectos e só houve consenso sobre um deles: a escolha do padrão japonês na implantação do sistema brasileiro permitirá alta definição e interatividade, mas não é para já. Os convidados do programa explicaram que há muitos impasses entre os políticos, um conflito de interesses que dificulta mudanças na legislação da radiodifusão.
“A interatividade vem, mas vai demorar alguns anos ainda” disse Carlos Zanatta, da revista Tela Viva. Participaram também o professor da Universidade Católica de Brasília Paulo Marcelo Lopes, o coordenador geral do Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura, Gustavo Gindre, e o jornalista Ethevaldo Siqueira, colunista do jornal O Estado de S. Paulo. Florestan Fernandes Júnior mediou o debate.
A discussão envolveu especulações sobre a motivação da escolha pelo padrão japonês. Falou-se sobre o interesse das grandes emissoras em controlar sozinhas a transmissão. Lopes explicou que a transmissão móvel, por telefone celular, será realizada pelas emissoras já conhecidas do público, sem interferência das empresas de telefonia.
Gindre abordou o conteúdo, que na sua opinião é a mais relevante nesse tema. “Nossa legislação é incapaz de lidar com essa escolha. As leis, de 1962, não servem mais para a realidade de hoje. Além, é claro, que a sociedade não foi, de forma alguma, ouvida”, argumentou.
Outro ponto levantado foi a questão das emissoras públicas. Questionado sobre como ficariam com a adoção da tecnologia do Japão, Gindre foi enfático. “Não ficam, simplesmente. Nada no decreto é claro com relação à situação das emissoras e nem com relação às eventuais concessões de canais que forem criados”.
O decreto, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 29 de junho, prevê a adoção da tecnologia japonesa para a mudança da transmissão analógica para a digital. De acordo com o documento, a tecnologia desenvolvida por pesquisadores brasileiros poderá ser agregada ao modelo japonês. O sistema de compressão de vídeo (MPEG-4), o sistema operacional (middleware) e aplicativos (como softwares) seriam alguns exemplos. O prazo previsto para que todos os brasileiros tenham acesso ao sinal digital é de sete anos, e para que todas as emissoras se adaptem à nova realidade, e não mais retransmitam em sinal analógico, é de dez anos.