Habitação no país vive paradoxo da falta e da sobra de moradias

03/07/2006 - 22h07

Nielmar Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio - O setor da habitação no país mostra um paradoxo: odéficit habitacional urbano, de cerca de 7 milhões de moradias, conviveao mesmo tempo com 5 milhões de residências fechadas, sem qualquer usoou ocupação, principalmente nos grandes centros. Na avaliação dasecretária nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades,Raquel Rolnik, a produção imobiliária, inclusive residencial, está maisvoltada para a questão patrimonial do que para a do uso. "A lógica dopaís é a do crescimento por extensão de fronteira. Vivemos o paradoxoda falta e, ao mesmo tempo, o da sobra de residências no país. Háproprietários hoje que chegam a possuir centenas de casas eapartamentos – a maior parte fechado", critica. Rolnik afirma que as várias políticas habitacionais implementadas nopaís nunca utilizaram como parâmetro a idéia da reforma e dareabilitação. Para ela, o grande desafio é exatamente o de repovoar asáreas consolidadas dos grandes centros urbanos, experimentando, aomesmo tempo, um modelo de habitação de interesse social em que sejapossível a convivência da habitação de interesse social, reunindo asclasses média, média alta e baixa em uma divisão de espaços muitopróximos. "Nossa política habitacional nunca trabalhou com a idéia da reforma eda reabilitação. Sempre com a construção. Dá-lhe conjunto habitacionalna periferia. Nunca houve uma equação voltada para o aluguel. Muitagente poderia pagar o aluguel desde que uma parte dele fossesubsidiado. Se o proprietário tem que receber R$ 500, R$ 600 por mês, ea família pode pagar R$ 300 ou R$ 400, ao invés de subsidiar umaresidência de R$ 25 mil lá onde Judas perdeu as botas, o governo bempoderia subsidiar o valor que complementasse este aluguel e que,portanto, viabilizasse o uso de um parque já construído". A secretária participou do Seminário Habitação e Reabilitação de ÁreasUrbanas Centrais, que acontece na sede do Instituto dos Arquitetos doBrasil, no Rio de Janeiro. O encontro segue até sexta-feira.