Rio, 3/7/2006 (Agência Brasil - ABr) - A organização não-governamental (ONG) Médicos sem Fronteiras (MSF) vai treinar, até o mês de agosto, cerca de 400 profissionais de saúde que trabalham em postos médicos localizados dentro de favelas cariocas. O objetivo é preparar os profissionais para enfrentar situações adversas nessas comunidades, especialmente a violência, e evitar que médicos e enfermeiros deixem seu trabalho por medo de conflitos armados.
"A idéia é compartilhar a nossa experiência de quase 35 anos de trabalho médico em áreas violentas. Desde a guerra do Afeganistão, dos conflitos armados de Chiapas, no sul do México, até as favelas filipinas e de Nairobi, no Quênia", explicou a o diretora-executiva da ONG no Brasil, Simone Rocha. Ela informou que, no Rio, as missões humanitárias da MSF em áreas de risco duraram quase dez anos.
O treinamento já começou em áreas consideradas perigosas, como o Complexo da Maré, a favela do Alemão e Vigário Geral, todas na zona norte da cidade. A primeira delas, inclusive, fica perto de uma avenida que chegou a ficar conhecida como "Faixa de Gaza". Apesar das comparações, Simone Rocha, prefere fugir desse discurso. "Ninguém aqui está dizendo que o Rio vive uma guerra civil. Isso não é um treinamento para guerra."
O enfermeiro sanitarista Mauro Nunes, um dos coordenadores da capacitação, informou que o treinamento é voltado para médicos, enfermeiros e agentes de saúde comunitários do Programa Saúde da Família, sendo desenvolvido em parceria com a prefeitura.
"Nós orientamos sobre a importância de que esses profissionais entendam a dinâmica do conflito, suas causas sociais, mas que mantenham sempre a neutralidade", disse Nunes. Ele ressaltou a necessidade de que médicos e enfermeiros se apresentem sempre identificados, com uniformes e crachás, e procurem a integração com as comunidades.
Nas dinâmicas de grupo, os profissionais de saúde identificam problemas e organizam, em conjunto, uma espécie de manual de segurança, que será repassado para outros colegas. "Há situações específicas de cada comunidade e cuidados básicos, como buscar abrigo em casas com pelo menos duas paredes, e não usar salto alto, devido a uma eventual fuga", explicou Nunes.