Habitação no país vive paradoxo da falta e da sobra de moradias

03/07/2006 - 20h27

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Rio – O setor da habitação no país mostra um paradoxo: o déficit habitacional urbano, de cerca de 7 milhões de moradias, convive ao mesmo tempo com 5 milhões de residências fechadas, sem qualquer uso ou ocupação, principalmente nos grandes centros. Na avaliação da secretária nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades, Raquel Rolnik, a produção imobiliária, inclusive residencial, está mais voltada para a questão patrimonial do que para a do uso. "A lógica do país é a do crescimento por extensão de fronteira. Vivemos o paradoxo da falta e, ao mesmo tempo, o da sobra de residências no país. Há proprietários hoje que chegam a possuir centenas de casas e apartamentos – a maior parte fechado", critica.

Rolnik afirma que as várias políticas habitacionais implementadas no país nunca utilizaram como parâmetro a idéia da reforma e da reabilitação. Para ela, o grande desafio é exatamente o de repovoar as áreas consolidadas dos grandes centros urbanos, experimentando, ao mesmo tempo, um modelo de habitação de interesse social em que seja possível a convivência da habitação de interesse social, reunindo as classes média, média alta e baixa em uma divisão de espaços muito próximos.

"Nossa política habitacional nunca trabalhou com a idéia da reforma e da reabilitação. Sempre com a construção. Dá-lhe conjunto habitacional na periferia. Nunca houve uma equação voltada para o aluguel. Muita gente poderia pagar o aluguel desde que uma parte dele fosse subsidiado. Se o proprietário tem que receber R$ 500, R$ 600 por mês, e a família pode pagar R$ 300 ou R$ 400, ao invés de subsidiar uma residência de R$ 25 mil lá onde Judas perdeu as botas, o governo bem poderia subsidiar o valor que complementasse este aluguel e que, portanto, viabilizasse o uso de um parque já construído".

A secretária participou do Seminário Habitação e Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais, que acontece na sede do Instituto dos Arquitetos do Brasil, no Rio de Janeiro. O encontro segue até sexta-feira.